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Um novo paradigma para a organização da pesquisa

Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão terão a missão de aproximar a ciência da sociedade

00A FAPESP anunciou, no dia 14 de setembro, os dez projetos classificados para integrar o Programa Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids). Os novos centros contarão com recursos da ordem de R$ 15 milhões anuais para desenvolver pesquisas multidisciplinares na fronteira do conhecimento. Essas pesquisas devem ter caráter inovador e gerar um conhecimento que possa ser transferido para os diversos níveis de governo, de forma a subsidiar políticas públicas, e para o setor privado, contribuindo para o desenvolvimento de novas tecnologias e para a criação de novas empresas. Os Cepids terão ainda a missão de promover atividades educacionais.

A cerimônia contou com a presença do governador Mário Covas e dos secretários de Estado da Saúde, José da Silva Guedes, das Relações do Trabalho, Walter Barelli, e da Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico, José Aníbal, e do presidente em exercício da FAPESP, Paulo Eduardo de Abreu Machado. Reitores, conselheiros e diretores da FAPESP, representantes das universidades e dos institutos de pesquisa e os coordenadores e as equipes de pesquisadores dos dez Cepids lotaram o auditório da Fundação. Em seu discurso, Mário Covas qualificou os pesquisadores de “bandeirantes do conhecimento” e, “em nome do povo de São Paulo”, agradeceu-lhes por seu trabalho. “Hoje, o desenvolvimento econômico e social só será possível com base na ciência e tecnologia”, afirmou.

O Programa Cepid, inspirado no modelo norte-americano adotado em 20 Centros de Ciência e Tecnologia da National Science Foundation, estabelece um novo paradigma para a pesquisa científica, de acordo com José Fernando Perez, diretor científico da FAPESP. “O maior desafio da política científica e tecnológica, que é o desafio dos Centros, é propor uma visão integrada da atividade de pesquisa com a transferência de conhecimento para o setor público e privado e a educação”.

Os dez Cepids, que abrangem diversas áreas de pesquisa, têm a tarefa de viabilizar parcerias com organizações responsáveis pela implementação de políticas públicas e com indústrias, além de estimular a formação de pequenas empresas que incorporem os resultados das pesquisas. “Todos os centros constituídos ou já têm uma relação com a indústria ou um potencial claro para isso. A indústria é uma parceira necessária, mas não tem tradição de investir em pesquisa”, disse Perez.

Além dos programas clássicos de graduação e pós-graduação, os centros terão ainda a responsabilidade de desenvolver atividades na área da educação básica, como cursos e treinamento para alunos e professores de segundo grau. “Em todos os centros a educação já tem um caráter inovador.”

Os Cepids, afirmou Perez, consolidam as três principais diretrizes de atuação da FAPESP: a pesquisa multidisciplinar, representada pelos projetos temáticos – com 270 em vigência; a transferência de conhecimento, que se faz por meio do programa de Políticas Públicas, com 60 projetos em andamento, e dois de inovação tecnológica – o de Inovação Tecnológica em Pequenas Empresas, com 120 projetos, e o Parceria para Inovação Tecnológica com 50 projetos. Por fim os programas de educação, o de Ensino Público e o Pró-Ciências.

Financiamento
A FAPESP vai apoiar as atividades dos centros por um período de, no máximo, 11 anos. “Trata-se da primeira linha de financiamento de pesquisa de longo prazo”, sublinha Perez. Os contratos poderão ser renovados no quinto e no oitavo ano de funcionamento, sempre por um período de mais três anos. “Depois disso, ou os centros terão cumprido sua missão ou já terão condições de andar sozinhos”, afirma, citando o exemplo do Centro de Biotecnologia, que acabou por se tornar um departamento da Universidade de Washington, em Seattle, nos Estados Unidos.

As atividades dos centros serão acompanhadas por um comitê externo permanente que deverá ser consultado sobre qualquer decisão da equipe. As avaliações serão anuais, sendo que no final do terceiro e do sexto ano terão caráter abrangente e decisivo para a continuidade do financiamento. Todos os centros estão vinculados a uma instituição de pesquisa que, em caráter de contrapartida, assumirá a responsabilidade pelos salários dos pesquisadores e pessoal de apoio, cederá as instalações, os equipamentos e a infra-estrutura para o desenvolvimento das pesquisas.

Disputa acirrada
O edital para a seleção dos Cepids foi lançado em 1998 e acabou por se tornar um desafio para a comunidade científica de São Paulo. A disputa foi acirrada: inscreveram-se 112 pré-projetos, que foram avaliados a partir dos três paradigmas do programa: pesquisa, inovação e difusão “Foi o programa mais competitivo da história da ciência no país”, garante Perez. Do conjunto de propostas, foram selecionados 30 projetos semifinalistas. Todos foram submetidos a uma banca de 150 consultores internacionais, especialistas nas diversas áreas de pesquisa, até chegar à classificação dos dez projetos finalistas. Estes últimos passaram ainda por uma análise mais detalhada que incluiu desde a avaliação da capacidade de liderança dos coordenadores dos projetos até visitas in loco.

“Imaginávamos classificar cinco ou seis propostas, mas devido à excelência dos projetos e ao entusiasmo dos avaliadores, tivemos que ampliar”, revela Perez. Os 20 projetos não classificados respondiam, de alguma forma, ao desafio proposto. “Tanto que a FAPESP está oferecendo a possibilidade de eles serem reapresentados na forma de projetos temáticos, com a vantagem de já contar com o aval de especialistas.” “Os Cepids são a prova do grau de excelência da universidade pública”, afirmou Jacques Markovitch, reitor da Universidade de São Paulo e presidente do Conselho de Reitores do Estado de São Paulo. “A pesquisa e os recursos humanos são a base para qualquer esforço governamental para o progresso da ciência”, completou.

Pesquisa e mercado
Em seu discurso, o secretário José Aníbal destacou a importância da integração entre a pesquisa científica e a inovação tecnológica para o desenvolvimento econômico. “Na nova economia, produtos que não têm inovação não disputam mercado”, disse. Ele adiantou que o governo do Estado, em parceria com o Sebrae, está constituindo um fundo de aval para apoiar setores produtivos, entre eles os que investirem na inovação tecnológica. “O fundo vai garantir até 80% do crédito que as empresas tomarem no sistema bancário. Os recursos virão do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e serão operados pela Nossa Caixa Nosso Banco”, afirmou.

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