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Medicina

Raio X controlado a distância

Sistema de controle de qualidade on line reduz os custos e a exposição dos pacientes à radiação

A redução da exposição dos pacientes aos raios X e a diminuição em 20% dos gastos com filmes radiológicos são alguns dos resultados obtidos com o controle de qualidade on line em diagnóstico por imagens, implantado pela empresa Unidade Radiológica Paulista (URP). Os principais efeitos são a redução das perdas de qualidade da imagem e a eliminação de doses desnecessárias de radiação causadas por aparelhos mal regulados. Outra vantagem é a eliminação dos custos de operação com visitas técnicas às clínicas.

Ainda em fase piloto, esse novo processo resulta do projeto Desenvolvimento de um Sistema de Gerenciamento Remoto para Programas de Garantia da Qualidade em Departamento de Diagnóstico por Imagem, que a URP e o Serviço Técnico de Aplicações Médico-Hospitalares do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (IEE-USP) desenvolvem no âmbito do Programa para Inovação Tecnológica (PITE) da FAPESP.

O IEE atua em controle de qualidade na área de saúde desde 1991, quando atendeu o Hospital Universitário da USP. Daí em diante, passou a monitorar os procedimentos de várias empresas: os técnicos do IEE recolhem os dados e depois os analisam em laboratório. Na área de radiodiagnóstico, o novo sistema vai facilitar o trabalho de apuração dos dados. Depois de concluída a fase piloto, ele estará disponível para todas as clínicas e hospitais que solicitarem o serviço.

Internet inspirou
A URP, que atua na área há 40 anos, aderiu ao programa de controle do IEE em 1993. Quatro anos depois, surgiu no instituto a idéia de criar um controle ainda mais eficiente pela Internet, que então despontava para o público.Coordenado, inicialmente, por Jean Albert Bodinaud, o projeto tem hoje a supervisão do físico Paulo Roberto Costa, chefe da Seção Técnica de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde do IEE. Ele coordena, juntamente com a física Tânia Furquim e o engenheiro Elias Roma Neto, uma equipe de 12 pessoas, entre engenheiros, físicos e tecnólogos, responsáveis pela rede de comunicações. É por essa rede que parte dos dados utilizados nas avaliações de qualidade de uma clínica é enviada – várias vezes ao dia, pela Internet – para a central de recepção, armazenamento e análise sediada no IEE.

Uma vez processados, os dados passam pela análise dos físicos, que emitem os relatórios, então postos à disposição dos clientes no site do IEE (www.iee.usp.br). Caso apontem algum problema sério, o responsável pela clínica recebe um alerta por e-mail ou telefone. Assim, é possível fazer rapidamente as correções necessárias. Além disso, um grupo de profissionais do IEE fica à disposição para esclarecer dúvidas e indicar procedimentos. “O mais importante é que os responsáveis pelo controle de qualidade nas empresas acompanhem os dados que são divulgados no site“, afirma Costa.

Em tempo real
“O pulo-do-gato desse projeto é tornar viável a identificação e a solução de problemas em tempo real”, revela o coordenador. “O processo de correção tornou-se muito rápido”, diz. Ele conta que o índice de rejeição – exames inadequados para um diagnóstico certo – registrado hoje pelas clínicas varia de 15% a 20%. “É um valor muito alto e precisa ser reduzido”, enfatiza Costa, que situa o índice ideal entre 5% e 8%. Ele lembra que o controle de qualidade em clínicas de radiodiagnóstico é obrigatório no Estado de São Paulo desde 1994 e no país desde 1998.

Exames confiáveis
Para concluir o projeto, falta implementar o sistema de aquisição de dados para a verificação remota das temperaturas das processadoras de filme e automatizar a atualização das páginas na Internet. Hoje, o IEE só faz o acompanhamento remoto de uma das três unidades da URP na capital. No primeiro semestre de 2001, o instituto ampliará o serviço para as duas outras unidades da empresa.”Antes de implantarmos o sistema, o tempo de correção de um problema era de até três dias. Hoje isso acontece em algumas horas e no mesmo dia”, diz o radiologista Rubens Prado Schwartz, sócio-proprietário da URP.

Para ele, a eficiência permitiu à empresa reduzir o número de exames “falsos negativos” e “falsos positivos”, que, se não refeitos, podem criar muita confusão. “Um equipamento mal regulado é responsável pelo aumento da ocorrência desses casos numa clínica.” Schwartz revela que a URP consegue ficar dentro da faixa de rejeição de 5%, recomendada internacionalmente. “A idéia é ampliar o atendimento remoto para todas as empresas interessadas que já usam os serviços do IEE”, diz Costa. Além da URP, são clientes do IEE mais 19 clínicas de radiodiagnóstico paulistas, que ainda recebem a visita dos técnicos: o sistema implantado pelo IEE será estendido a elas durante o ano de 2001.

Equipamentos
O financiamento da FAPESP foi usado basicamente na importação de equipamentos de informática e de controle de qualidade. Entre eles, uma servidora digital que fica no IEE, recebe todos os dados e os processa automaticamente. No controle de qualidade, destaca-se o sensitômetro – a sensitometria determina e define as características dos filmes radiológicos, como velocidade de exposição e contraste. A URP recebeu ainda terminal de computador, modem com linha telefônica exclusiva – que recebe e envia todos os dados dos exames -, coletor de dados com leitora de código de barras e oito termômetros eletrônicos de precisão.

Além de avaliar o funcionamento dos equipamentos, o sistema de trabalho mostra o desempenho dos profissionais envolvidos no processo. O software usado no programa foi desenvolvido no próprio IEE. Na URP, os funcionários responsáveis pelas salas de atendimento alimentam o terminal de recepção de dados, depois de cada bateria de exames. Por meio de um crachá com código de barras é identificado o responsável pela fonte dos dados. A URP faz cerca de 4.800 exames mensais na unidade Paulista, onde 40 dos 100 funcionários estão envolvidos no projeto. O custo de implantação do sistema na URP foi de R$ 6 mil e seu uso “proporcionou uma redução de até 15% de custos diretos da nossa atividade”, revela Schwartz.

Banda larga
A equipe do IEE pensa em mais avanços. A expansão do serviço de banda larga no Brasil, por exemplo, permitirá avaliar as imagens pela rede. “Já estamos estudando formas de usar essa tecnologia para ampliar o raio de alcance dos nossos trabalhos”, afirma Costa. Para o coordenador, com a banda larga será possível cobrir praticamente todos os problemas que surgem nas clínicas de radiodiagnóstico: “A possibilidade de termos acesso à cópia de um exame ou de um teste de controle de qualidade via Internet é a grande vantagem da utilização da banda larga”. As áreas com maior índice de ocorrências já são atendidas pelo projeto: “O acesso às imagens daria amplitude ainda maior ao controle de qualidade”.

Costa lembra outro motivo para a criação do serviço: falta de mão-de-obra especializada no setor para fazer o trabalho dentro das empresas. “O número de estudantes na área de física vem diminuindo a cada ano no Brasil, pois as dificuldades enfrentadas no mercado de trabalho acabam afastando os jovens interessados.”

O pesquisador salienta que o controle de qualidade remoto permite resolver as dificuldades das clínicas distantes dos grandes centros. Ele acredita que, por seu alcance e pela redução de custos, o projeto pode ser a solução para os problemas das clínicas de radiodiagnóstico em todo o país. E conclui: “O projeto cai como uma luva para países em desenvolvimento como o Brasil”.

O projeto
Desenvolvimento de um Sistema de Gerenciamento Remoto para Programas de Garantia da Qualidade em Departamento de Diagnóstico por Imagem (nº 97/13103-8); Modalidade Parceria para Inovação Tecnológica (PITE) Empresa parceira – Unidade Radiológica Paulista; Coordenador Paulo Roberto Costa – Institutode Eletrotécnica e Energia da USP; Investimento R$ 20.852,00 e US$ 131.186,54(FAPESP), R$ 39.500,00e US$ 12.600,00 (empresa)

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