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Carta do editor | 72

Avanços estratégicos

Esta edição de Pesquisa FAPESP apresenta como reportagem de capa importantes contribuições de físicos brasileiros para o avanço da nanotecnologia, área de fronteira da pesquisa, estratégica, que, entre outros efeitos, deverá produzir grandes transformações na concepção dos atuais computadores. São mudanças baseadas na miniaturização de componentes, com ganhos na capacidade de armazenamento e velocidade de processamento de informações, que praticamente anunciam para não muito mais que uma década o fim do domínio dos chips de silício. Dentro desse vasto campo por explorar, as proposições teóricas e experiências concretas feitas em São Paulo com nanofios de ouro são contribuições tão reconhecidas que mereceram a capa de dezembro da Physical Review Letters, uma das mais importantes, senão a mais importante publicação científica internacional de física. O assunto já apareceu na imprensa brasileira, particularmente em reportagem publicada pela Folha de S. Paulo em 4 de janeiro, mas pelo seu significado, pelo que demonstra da capacidade nacional para se situar na linha de frente da pesquisa científica mesmo em áreas de fronteira, Pesquisa FAPESP lhe concede seu espaço mais nobre, sacrificando deliberadamente desta vez um dos critérios que quase sempre considera na escolha da capa de cada edição, ou seja, o da novidade.

Esta edição, contudo, está recheada de informações novas. Por exemplo, há novos cálculos que indicam que a Floresta Amazônica não absorve tanto gás carbônico quanto se pensava, como relata reportagem de Marcos Pivetta, que foi séria candidata à capa. A revisão dos números saiu do megaprojeto internacional de US$ 80 milhões, que reúne mais de 300 pesquisadores da América Latina, Estados Unidos e Europa, liderados pelo Brasil. O trabalho aponta para uma nova visão das possibilidades ambientais da Amazônia: não é a vilã do mundo por causa do desmatamento e das queimadas, como também está longe de representar a salvação do planeta. Sem dúvida, uma nova contribuição para um debate científico sério travado sobre a região em diversas partes do mundo.

Vale um registro especial para indicadores recentes de ciência, tecnologia e inovação em São Paulo e no Brasil, produzidos pela FAPESP, que mostram um sistema de C&T permeado de contrastes, mas que mesmo assim, como relata Lucília Atas Medeiros, avança, inova e produz, embora em ritmo ainda lento ante suas necessidades e ambições. O estudo mede os diversos ângulos do sistema científico-tecnológico e apresenta um painel real da produção paulista e brasileira.

Ter uma idéia precisa do que é produzido no campo é o resultado de uma metodologia criada para estimar a tonelagem da produção de cana em uma determinada área com antecedência de quatro a cinco meses. Criado por um grupo de pesquisadores da Unicamp, o projeto usa imagens de satélite para fazer os cálculos corretos e deu tão certo que já está em fase de patenteamento.

Também tem a ver com produção e trabalho o principal destaque da seção de Humanidades. Nela é contada a história das primeiras mulheres a trabalhar nas Ferrovias Noroeste do Brasil, em Bauru, interior do Estado, no começo do século 20. Os preconceitos e as dificuldades para desempenhar o papel de esposa, mãe e trabalhadora num ambiente inteiramente masculino são histórias ainda pouco conhecidas de uma sociedade que progrediu lentamente.

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