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Alimentos

Nutrição como defesa

Empresa cearense desenvolve produtos baseados na relação entre nutrientes e imunologia

MIGUEL BOYAYANEnquanto a maioria das microempresas dificilmente ultrapassa a barreira dos três anos de existência, a empresa de biotecnologia cearense Nuteral está prestes a completar dez anos. Nesse período, não só expandiu seu espaço físico, de 50 para 2.400 metros quadrados, como também sua linha de produtos e até arranjou um parceiro europeu. A empresa é fruto da trajetória acadêmica de Augusto Guimarães. Professor do Departamento de Nutrição da Universidade Estadual do Ceará (Uece), ele passou um período na Universidade São Paulo (USP), no início da década de 90, onde defendeu tese de doutorado, que trata da relação entre alguns tipos de gordura da dieta – no caso, os ácidos graxos – e a resposta imunológica do organismo.

A necessidade de continuar a trabalhar sobre o tema da tese levou-o a criar a Nuteral, no final de 1992, para desenvolver uma dieta para nutrição enteral (por meio de sonda). Hoje a empresa trabalha com 36 produtos, destinados à nutrição hospitalar e infantil e alimentos funcionais, que além de nutrir têm componentes que podem prevenir e controlar doenças. No ano passado, faturou R$ 6,4 milhões e este ano espera chegar a R$ 17 milhões. Para atingir essa meta, aposta no Reabilit, um alimento em pó para ser administrado depois que o paciente recebe alta hospitalar. “Para chegar ao produto, em quatro versões, uma para cada tipo de doença, foram seis anos de pesquisa com capital próprio”, conta Guimarães.

A parceria com a holandesa DMV International é descrita por Guimarães como “uma feliz coincidência”. “Descobrimos a empresa quando buscávamos matéria-prima para nossos produtos”, relata. O professor foi à Holanda procurar a empresa. Saiu de lá como distribuidor exclusivo no Brasil para o segmento de ingredientes nutricionais.

Concorrência multinacional
A Nuteral tem três patentes registradas. Uma refere-se ao desenvolvimento de peptídeos (pedaços de proteínas) biologicamente ativos com finalidades nutricionais, que resultaram em dois produtos, Maxiglutam e Glutimune, destinados ao fortalecimento da resposta imunológica. Outra de conceito, ou seja, referente à aplicação do produto destinado à nutrição enteral ou oral exclusivamente após a alta hospitalar, com o Reabilit. A terceira é de processo industrial, com o Cal-Carb, suplemento nutricional de cálcio. Com essas patentes e a tecnologia desenvolvida em Fortaleza, a empresa enfrenta, como concorrentes, grandes laboratórios multinacionais, como o norte-americano Abbott, os suíços Novartis e Nestlé, o alemão Fresenius e o holandês Support.

Guimarães, que divide seu tempo entre a empresa e a universidade, também integra o grupo que pesquisa o papel regulador dos ácidos graxos em várias funções do organismo, coordenado pelo professor Rui Curi, do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, seu orientador da tese de doutorado. “Apesar de a ênfase ser em pesquisa básica, os resultados científicos alcançados têm sido importantes para subsidiar o desenvolvimento de novas fórmulas nutricionais”, relata Guimarães. Foram resultados semelhantes que serviram de estímulo à criação da Nuteral, um divisor de águas na trajetória profissional do professor.

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