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Informática

Empresa de talentos

Ex-alunos da Unicamp usam novo sistema para construir softwares adaptados a cada cliente

NEGREIROSNo próximo mês de abril, a empresa Ci&T Systems comemora oito anos de atividade com vendas de R$ 15 milhões anuais e 140 funcionários. Tamanho sucesso, em tão pouco tempo, foi alcançado, pela então microempresa, sob o comando de três jovens formados no início da década de 1990 em engenharia da computação na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). César Gon, 30 anos, Fernando Matt, 29, e Bruno Guiçardi 30, desenvolveram soluções inovadoras para softwares de comércio eletrônico (e-business) e conquistaram um mercado formado principalmente por grandes empresas.

O princípio adotado por eles foi criar estruturas que permitam a construção rápida e flexível de programas produzidos de acordo com a necessidade de cada cliente por meio de componentes de softwares pré-desenvolvidos. Essas soluções são chamadas de componentização. “Desenvolvemos uma arquitetura que incorpora as mais recentes inovações existentes no mercado, utilizando e reutilizando cada componente básico de vários programas para atender novas demandas dentro de uma empresa”, afirma Gon, mestre em ciência da computação e presidente da empresa.

Ele traça um paralelo entre a história do software e a da indústria automobilística, que evoluiu de uma produção quase artesanal para uma cadeia produtiva que integra fornecedores de peças e montadoras. “A Ci&T – a montadora na analogia – usa ‘pedaços’ de programa prontos em um software sob medida. É muito mais rápido e econômico do que aqueles em que se constrói cada peça para resolver problemas semelhantes”, diz Gon.

Esse sistema tem vantagens em relação às duas opções disponíveis atualmente. De um lado, softwares prontos, de prateleira, que não preenchem certas necessidades de cada empresa. De outro, programas desenvolvidos sob medida, de custo elevadíssimo e longo tempo de maturação. Por isso, o software componentizado, como é conhecido, para comércio eletrônico tem atraído organizações do porte como Petrobras, Natura, AGF Brasil e BankBoston, para citar alguns clientes da carteira que a Ci&T conquistou nos oito anos de existência. Nesse período, ela disputou – e venceu – concorrências em grandes multinacionais, o que acabou favorecendo seu rápido crescimento.

Estoque global
O primeiro contrato assinado pela Ci&T, de R$ 50 mil, foi com a IBM, para gerência de redes de telecomunicações, fato que consolidou a formação da empresa em 1995. Em 2002, outra multinacional levou a Ci&T a dar o primeiro passo em direção ao mercado externo. Depois de vencer mais de 800 concorrentes, ela desenvolveu o projeto da Hewlett-Packard (HP) de reposição automática de estoques em grandes distribuidores, como Pão de Açúcar, Extra, Carrefour e Kalunga. Em três meses, o sistema batizado de Eletronic Order Fulfillment foi adotado também pelas unidades da HP no Chile, México e nos Estados Unidos. Essa primeira exportação respondeu por 10% do faturamento de R$ 15 milhões da Ci&T no ano passado. O plano de expansão no mercado mundial inclui uma representação comercial nos Estados Unidos para facilitar a participação em feiras e eventos do setor, e trabalhar o mercado norte-americano.

A meta – ambiciosa, reconhece César Gon – é crescer 50% por ano até 2007, quando pretende alcançar a casa dos R$ 100 milhões de receita. Para isso, ele analisa a entrada de um parceiro estratégico este ano, possivelmente um investidor de capital de risco. Gon, no entanto, não se deixa seduzir ainda pelo mercado de capitais e pretende manter sua empresa como uma sociedade anônima (S.A.) de capital fechado. Ao optar por essa linha de crescimento, um pouco mais lenta, a Ci&T conseguiu passar ao largo da crise que afetou o setor de Internet nos últimos anos. “Nosso foco está em empresas tradicionais, de negócios sólidos, com quem estabelecemos relacionamento de longo prazo. Visualizamos nosso cliente globalmente e procuramos desenhar o crescimento dessas empresas nos próximos cinco anos.”

Depois da expansão impulsionada pelo setor de telecomunicações, a empresa desenvolveu soluções para indústrias, bancos, seguradoras, empresas de distribuição, mídia e entretenimento. “O nosso grande desafio é fazer uma ponte entre as necessidades do negócio e a tecnologia. Fazemos isso, criando equipes para cada cliente. Essas equipes se especializam em segmentos e trabalham por mercado.” O setor de seguros é um exemplo, com produtos desenvolvidos para a BrasilPrev, Caixa Econômica Federal e a AGF.

A maior cliente da Ci&T é a Petrobras. Na gigante petrolífera, a empresa campineira modernizou o sistema de controle de dados de movimentação, estoque e qualidade de petróleo, gasolina, nafta, gás natural e álcool. Para a Natura, foi desenvolvido um novo site para aumentar a interatividade entre a maior empresa brasileira de cosméticos e suas consultoras e consumidoras espalhadas pelo Brasil.

Para continuar a crescer, a Ci&T está investindo R$ 7 milhões no biênio 2002/2003. São R$ 2,5 milhões obtidos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), dentro do Programa de Apoio ao Setor de Software (Prosoft), e R$ 4,5 milhões de recursos próprios. O que permitiu mudar a sede da empresa de um antigo casarão no centro da cidade para um prédio de 1,6 mil metros quadrados, com infra-estrutura tecnológica de vanguarda, situado no Pólo de Alta Tecnologia de Campinas. A outra parte dos recursos é utilizada para ampliar a malha de marketing e comercialização, com a abertura de escritórios em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.

Novos empregos
Boa parcela dos investimentos será aplicada no desenvolvimento de novos produtos e na ampliação de seu quadro profissional, de 140 para 180 funcionários ainda em 2003. A Ci&T pretende manter o perfil que ajudou a empresa a crescer: a grande maioria dos funcionários é formada em ciência da computação, mas há espaço para físicos e engenheiros, entre outros. Do total de funcionários, 70% vieram da Unicamp, o celeiro onde a empresa busca seus profissionais, que se autodenominam a “Geração U”. Entre os profissionais da Ci&T, 30% têm título de mestrado ou doutorado. “Mas a característica comum a todos é a capacidade de inovar e a disposição para mudanças, fator que faz parte da cultura da empresa”, diz Gon.

Pioneira no Brasil no desenvolvimento de softwares baseados em componentes, a Ci&T agora aposta suas fichas nosweb services , recurso que permite a comunicação via Internet entre sistemas desenhados em diferentes linguagens de programação, desenvolvidos por fornecedores distintos e em sistemas operacionais diversos. A operacionalidade conquistada pelos web services representa o primeiro passo da computação distribuída, tendência que deverá nortear o futuro do desenvolvimento de softwares, afirma Kleber Bacili, coordenador da unidade de componentes da Ci&T. Antes as empresas concentravam em grandes computadores – os mainframes – o processamento de suas informações, muitas vezes feito em máquinas diferentes que executavam serviços para determinadas funções.

A grande evolução consiste em criar um sistema que seja compatível e tenha comunicação e acesso direto a várias máquinas e nós da rede, de forma simples, barata e sem nenhum tipo de interferência. Bacili exemplifica com um banco que utiliza a mesma infra-estrutura tecnológica para fazer análise de crédito e liberar financiamento. Os web services permitem distribuir a tarefa de análise de crédito para empresas que tenham essa especialização, liberando o espaço dos computadores da empresa para outras missões. “Por meio desse recurso é possível usar serviços ao redor do mundo”, diz Bacili. Um bom caminho para a empresa continuar na rota da inovação.

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