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Memória

Bandeirantes do século XX

Há 121 anos região selvagem de São Paulo começava a ser explorada

No final do século XIX, o estado de São Paulo tinha uma enorme área que não diferia de nenhuma outra região desconhecida do Brasil. Um mapa de 1868 mostra uma mancha cobrindo mais de 25% do território paulista com os seguintes dizeres: “Terrenos cupados pelos indígenas ferozes”.

Quase 30 anos depois, em 1905, o engenheiro Gentil Moura reforçava essa informação no Relatório de exploração dos rios Feio e Aguapeí: “O índio coroado tem sido o empecilho para o povoamento dessa zona. Cioso da sua liberdade, zeloso das suas terras, da sua família, dos seus, defende-os com ardor, com toda a sinceridade, contra os brancos, cuja entrada no sertão não vê com outro fito senão de matá-los e tomar-lhes as terras”. Moura havia assumido o lugar de Olavo Hummel, ferido por uma flechada.

As expedições às terras selvagens começaram a ser organizadas em 1885, quando o presidente da então província de São Paulo, João Alfredo Corrêa de Oliveira, convidou o geólogo norte-americano que trabalhava no Museu Nacional, Orville Derby, para criar um plano de exploração.

O objetivo era obter informações geográficas, topográficas, itinerárias, geológicas e agrícolas da região desconhecida.
Uma vez aprovada a criação da Comissão Geográfica e Geológica (CGG), em março de 1886, Derby foi nomeado chefe. No início, a equipe foi composta pelo engenheiro civil Theodoro Sampaio e pelos engenheiros de minas Francisco de Paula Oliveira e Luiz Felipe Gonzaga de Campos.

Logo depois o botânico Alberto Löfgren e o ajudante de primeira classe João Frederico Washington de Aguiar foram incorporados à comissão. Em abril, Sampaio, Oliveira e Aguiar, além de 11 práticos, foram a campo em direção a Itapetininga, centro das primeiras operações exploratórias.

A partir de 1889 começaram a ser publicados boletins, mapas e relatórios com informações geológicas, meteorológicas, botânicas, arqueológicas, etnográficas e históricas, entre outras. Mas em 1905 Derby demitiu-se da CGG ao discordar da orientação do novo presidente do estado, Jorge Tibiriçá (1904-1908), que ordenou prioridade para a conquista dos territórios dominados pelos índios com o objetivo de colonizar a região e obter terras para a agricultura.

“Derby era fantástico, considerado o pai da geologia no Brasil, mas publicava os resultados lentamente e resistia aos desejos de ocupação do governo e dos agricultores”, explica Fernando Cilento Fittipaldi, pesquisador do Instituto Geológico e coordenador do livro Os 120 anos de criação da Commissão Geographica e Geologica – 1886-2006 (Instituto Geológico).

As expedições desses novos bandeirantes dirigiram-se então ao “extremo sertão” pelos quatro principais rios da região: Feio, Peixe, Tietê e Paraná. Nessas ocasiões, os pesquisadores muitas vezes tinham a companhia de soldados para protegê-los dos índios. Posteriormente foram investigados o Ribeira de Iguape, o rio Juqueriquerê e o rio Grande, o litoral norte e sul e o Vale do Paraíba.

Como instituição, a CGG durou até 1931 e foi extinta após ter cumprido sua missão. Um de seus maiores méritos foi ter dado origem a vários centros de pesquisa científica em São Paulo, como os institutos Geológico, Florestal, de Botânica, Geográfico e Cartográfico, Astronômico e Geofísico, os museus Paulista, de Zoologia, de Arqueologia e Etnologia.

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