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Produção Acadêmica

Expansão ultramarina

Biblioteca eletrônica SciELO chega à África do Sul e recebe elogio em editorial da Science

MARCOS GARUTIA influência internacional da biblioteca científica eletrônica SciELO (Scientific Electronic Library Online), programa criado há pouco mais de uma década pela FAPESP em parceria com o Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (Bireme), é cada vez maior na difusão da produção científica do Brasil e dos outros países que aderiram à iniciativa. Em novembro do ano passado, a África do Sul, que ostenta nove prêmios Nobel em sua história, quatro deles em áreas científicas, optou por adotar o SciELO como a plataforma de publicação de suas revistas científicas de maior qualidade e os primeiros periódicos sul-africanos já entraram na biblioteca eletrônica ainda como parte de um projeto-piloto. Além de ganhar espaço entre nações em desenvolvimento fora do mundo ibero-americano, ampliando sua área de atuação para outro continente, o SciELO começou a chamar positivamente a atenção de atores de peso da ciência global. Um caso exemplar recente é o da revista científica norte-americana Science, uma das vozes mais respeitadas da pesquisa de primeira linha.

Em editorial intitulado “Globalizando a publicação da ciência”, a edição da Science que circulou com a data de 21 de agosto elogia a atuação do SciELO e o aponta como um modelo de difusão da produção científica feita por países em desenvolvimento. De acordo com o texto, assinado por Wieland Gever, professor emérito de bioquímica médica da Universidade do Cabo, na África do Sul e ex-presidente da Academia de Ciências da África do Sul, “esse sistema (SciELO) já revelou a existência de revistas e artigos científicos produzidos localmente que são altamente citados em revistas indexadas pela base de dados ISI (Institute for Scientific Information)”, além de terem igualmente um grande impacto dentro da própria base de revistas do SciELO. O artigo na Science defende a ideia de que mais países não desenvolvidos, sobretudo os da África, deveriam optar por publicar suas revistas científicas no SciELO ou num sistema semelhante, escolha que provavelmente aumentaria a penetração mundial de seus periódicos científicos. “O editorial é um marco, um reconhecimento ao bom trabalho do SciELO”, diz Abel Packer, coordenador operacional do SciELO.

Historicamente, a FAPESP tem contribuído com cerca de 75% do investimento no programa SciELO Brasil, que surgiu como um projeto-piloto em 1997 e foi definitivamente implantado no ano seguinte. De 1997 até o fim deste ano, a Fundação terá aportado cerca de R$ 17 milhões à iniciativa (ver quadro com a evolução dos investimentos no SciELO). Do orçamento total de R$ 4 milhões destinados ao SciELO em 2009, a FAPESP entrará com R$ 3,3 milhões, a Bireme arcará com R$ 450 mil e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que passou a apoiar a iniciativa em 2002, com R$ 250 mil.

032-033_Scielo-mat_163“O SciELO nasceu dentro da FAPESP, com apoio entusiasmado da direção”, afirma Rogério Meneghini, coordenador científico da biblioteca eletrônica no Brasil e um de seus idealizadores. “Ela foi uma das primeiras iniciativas a implantar o modelo de acesso aberto a artigos científicos.” Para o diretor científico da Fundação, Carlos Henrique de Brito Cruz, os resultados do SciELO “têm sido exemplares e reconhecidos por observadores independentes de várias entidades estrangeiras”. Brito Cruz afirma também que “as revistas que fazem parte do SciELO tiveram seus artigos mais citados internacionalmente, gerando com isso benefícios para o desenvolvimento científico em São Paulo e no Brasil”.

Quando entrou pela primeira vez no ar, o SciELO contava com 10 revistas científicas, todas brasileiras. Atualmente o sistema agrupa 637 periódicos de 8 países ibero-americanos, dos quais 197 são do Brasil. O segundo país com mais títulos é o Chile (81 revistas) e o terceiro, a Argentina (54). Revistas de outras partes do mundo, como da Jamaica e da já citada África do Sul, começam a entrar no sistema. “Hoje há 5 periódicos da África do Sul no SciELO, mas devemos ter 100 revistas deles nos próximos três anos e também teremos um periódico da Itália em breve e outro do Oriente Médio na coleção temática de saúde pública”, diz Packer. Essa estratégia de expansão geográfica dos títulos da biblioteca eletrônica “aumentou ainda mais o valor de toda a coleção, beneficiando todas as publicações envolvidas”, comenta Brito.

O SciELO só indexa e publica revistas científicas que tenham periodicidade regular, trabalhem com o modelo de peer review (antes de aceitos, os artigos são submetidos ao processo de revisão por pares) e concordem em manter seu conteúdo totalmente aberto e de acesso gratuito. A coleção cobre revistas de todas as áreas científicas, embora algumas coleções nacionais, como a de Cuba e a da Espanha, tenham começado sua participação no projeto com títulos das ciências da saúde. Ainda hoje boa parte das revistas do sistema é da área médica, mas há publicações também das humanas e exatas.

Segundo Packer, a penetração global das revistas científicas brasileiras  no SciELO é evidente. Todo mês as páginas da biblioteca eletrônica contabilizam em média 9 milhões de acessos, tendo em 100 países registrado ao menos 2.500 visitas. “O fator de impacto das revistas brasileiras que estão indexadas na base de dados Web of Science (da empresa Thomson Reuters) e no SciELO desde o início teve aumento médio de mais 200% no período 1997-2008”, afirma o coordenador operacional da biblioteca eletrônica. “Pela primeira vez na história, temos publicações nacionais com fator impacto maior do que 1.” Isso quer dizer que no ano passado os artigos científicos publicados entre 2006 e 2007 nesses periódicos foram citados em média ao menos uma uma vez por outras revistas que integram a mesma base de dados. Quatro publicações atingiram esse patamar: Memórias do Instituto Oswaldo Cruz (da Fiocruz), Brazilian Journal of Medical and Biological Research (da Associação Brasileira de Divulgação Científica), Journal of the Brazilian Chemical Society (da Sociedade Brasileira de Química) e a Revista Brasileira de Psiquiatria (da Associação Brasileira de Psiquiatria).

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