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Internacionalização

Qualidade e experiência

Programa especial atrai professores visitantes do exterior para a Unicamp

No primeiro semestre deste ano começa a etapa mais importante do projeto de internacionalização da Universidade Esta­dual de Campinas (Unicamp), o Programa de Professor Visitante. Pelo menos cinco pesquisadores e professores que atuam em outros países devem desembarcar em Campinas durante 2011 para ministrar aulas e fazer pesquisas na universidade pelo período de um a dois anos. “Estamos resgatando a tradição da Unicamp de receber profissionais experientes do exterior”, afirma Ronaldo Pilli, pró-reitor de Pesquisa da universidade. Esse resgate se refere à própria fundação da universidade, que se formou a partir do convite a professores estrangeiros e brasileiros que trabalhavam em instituições fora do Brasil.

Os principais objetivos do programa, de acordo com Pilli, são atrair pesquisadores brasileiros ou estrangeiros com experiência internacional e melhorar o conceito de cursos de pós-graduação da universidade que ainda não obtiveram os conceitos 6 e 7 da avaliação trienal realizada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), que atestam serem de nível internacional. Além disso, trazer pesquisadores de fora aumentaria a possibilidade de intercâmbio acadêmico com instituições de pesquisa. Mas o projeto de internacionalização não tem como objetivo fazer a universidade galgar posições em rankings internacionais. “Talvez esta seja uma consequên­cia natural”, diz Pilli.

O Programa de Professor Visitante teve início em 2009, com a inserção de anúncios em periódicos estrangeiros especializados em ciência, como Science e Nature. O recrutamento foi direcionado a profissionais que contassem com pelo menos cinco anos de doutoramento e que tivessem linhas de pesquisa definidas. Foram recebidos 240 currículos de todo o mundo entre 2009 e 2010. “Cerca de 15% deles não preenchiam os requisitos”, explica o pró-reitor.

Boas condições
Após o recebimento, a etapa seguinte foi enviar os currículos aos respectivos departamentos. Pelo menos 10 foram selecionados e seis candidatos desembarcaram em Campinas no ano passado para conhecer a universidade e ministrar seminários. Outros estão previstos para este ano com todas as despesas pagas pela Unicamp. Três dos visitantes já foram contratados e devem chegar este semestre. Outros dois estão em processo de contratação. Segundo o pró-reitor de Pesquisa, a maior parte tem entre 35 e 45 anos e experiência em pesquisa e docência.

O francês François Artiguenave foi o primeiro candidato a vir conhecer a Unicamp, em março de 2010. Doutor em genética e biologia molecular, dirige desde junho de 2006 o Laboratório de Bioinformática do Genoscope do Centre National de Séquençage, na França. Ele começa a trabalhar na Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp em março. O primeiro a iniciar o período de professor visitante será o doutor em física médica pela Universidade Simon Bolívar, na Venezuela, onde é docente, Mario Bernal. “Espero desenvolver minha linha de pesquisa baseado nas boas condições de trabalho que terei na Unicamp. Além disso, acho que posso acrescentar minha experiên­cia em física médica ao programa de graduação da área e espero contribuir para o desenvolvimento de um programa de pós-graduação neste mesmo ramo”, afirma Bernal, cuja chegada para o Instituto de Física Gleb Wataghin estava prevista para janeiro.

Outro pesquisador experiente que trabalhará na Unicamp será Alan Hazell, fisiologista originário de Trinidad e Tobago que hoje dirige o Laboratório de Neurorresgate da Universidade de Montreal, no Canadá. “Fiquei particularmente impressionado com a história de excelência acadêmica da Unicamp, a qualidade de seus pesquisadores da área médica e com as instalações que já existem”, diz Hazell, que estuda doenças neurodegenerativas, linha de pesquisa que desenvolverá no Departamento de Neurologia.

eduardo cesarAlém das condições de trabalho, outros fatores que impressionaram os pesquisadores foram o corpo discente e o comprometimento do alto escalão da Unicamp com o programa. “Visitei a universidade em agosto e fui recebido pelo reitor e pelo pró-reitor de Pesquisa. Esse fato reflete a importância que as autoridades da universidade dão à pesquisa e especificamente ao Programa de Professor Visitante”, opina Mario Bernal. “O que me chamou a atenção especialmente foi o envolvimento dos alunos em pesquisa e o número de pós-graduandos”, contou Paulo Martins, do Instituto de Computação da Chaminade University, no Havaí, brasileiro radicado há 15 anos nos Estados Unidos.

Martins fez graduação e mestrado na Universidade Federal de Santa Catarina, se doutorou na Universidade de York, no Reino Unido, e trabalha no Havaí. Viu no anúncio da Unicamp publicado na revista de ciências da computação Communications of the ACM (Association of the Computer Machinery) uma ótima oportunidade para voltar à terra natal. Ele desembarcou em Campinas em setembro e deve se fixar na Faculdade de Tecnologia, no campus de Limeira. Especialista em sistemas de tempo real e redes de computadores, gostou do que viu em sua visita. “Conheci os campi de Barão Geraldo e de Limeira. Estive em vários laboratórios e fiquei bastante impressionado com as estatísticas da Unicamp, que de certa forma são comparáveis com instituições do exterior. Também me chamou a atenção, ao conhecer a região de Campinas, o seu potencial como polo tecnológico.”

Bom momento
Aqueles que atenderam ao chamado se interessaram tanto pela boa fama da universidade quanto pela capacidade de financiamento da FAPESP. O valor internacionalmente competitivo das bolsas e do investimento em pesquisa oferecido pela Fundação, fortalecido pela taxa de câmbio atual do real, é atraente. “Esses professores visitantes vindos do exterior terão também o mesmo tratamento de um docente regular em seus pedidos”, garante Ronaldo Pilli. O pró-reitor de Pesquisa lembra que o acesso a financiamento para pesquisas está especialmente difícil no hemisfério Norte em decorrência da crise econômica. Além disso, as oportunidades de contratação na área acadêmica estão menores por lá. É, portanto, um bom momento para atrair pesquisadores com potencial.

Iniciativas como essa já chamaram a atenção da imprensa internacional. A revista The Economist destacou, em reportagem publicada na edição de 6 de janeiro, as oportunidades oferecidas aos pesquisadores no Brasil, principalmente no estado de São Paulo. O investimento vindo da FAPESP e das próprias universidades estaduais paulistas é considerado pela publicação britânica o principal atrativo para os pesquisadores estrangeiros. Outra vantagem apontada é o potencial para crescimento profissional.

Os recém-chegados terão a oportunidade de participar de concurso para professor permanente a ser aberto no final de seu período de visita. Não é exigido o domínio do português, pois tanto as aulas como os concursos para contratação de quadro docente terão, além do português, a língua inglesa como opção. Na outra ponta, os alunos de pós-graduação da universidade terão a oportunidade de se aperfeiçoar no idioma por meio da convivência com esses pesquisadores e de cursos a serem oferecidos pela própria Unicamp.

“De um lado, a experiência me dará a chance de conhecer o ambiente de pesquisa no Brasil. Por outro lado, oferece a oportunidade de me candidatar a professor integral, o que considero de importância crucial para mim e para minha família. Além disso, a situação de financiamento é excelente e permitirá um impulso em minhas pesquisas com o apoio de alunos e equipamentos de ponta”, afirma o alemão René Rosenbaum. Último a conhecer a universidade, Rosenbaum é pesquisador associado do Institute of Data Analysis and Visualization da Universidade da Califórnia, em Davis.

Mão dupla
A Unicamp quer também enviar seus docentes para períodos fora do Brasil. O incentivo virá com o apoio aos que quiserem fazer pós-doutoramento no exterior. Aqueles que receberem financiamento para estágios de pós-doutoramento no exterior de agências de fomento terão recursos do Fundo de Apoio à Pesquisa/Faepex-Unicamp para serem empregados em seus laboratórios quando retornarem. Os alunos não serão prejudicados no período. “Vamos oferecer vagas para temporários assumirem suas aulas”, afirma Pilli. Ele observa que é uma necessidade enviar os professores em início de carreira para uma experiência acadêmica internacional. “Temos 1.800 docentes na carreira de magistério superior. Cerca de 70% têm, pelo menos, seis meses de experiência em pesquisa no exterior.” A internacionalização de recursos humanos deverá ser o principal investimento da universidade em 2011. “Temos uma média de 50 docentes contratados por ano na universidade. Com o programa gostaríamos de acrescentar, pelo menos, mais 10 docentes a cada ano.”


Esta é a sexta reportagem de uma série sobre a internacionalização da pesquisa científica em São Paulo. Veja as outras reportagens da série:

Atração de talentos
A preparação do salto
Ambiente multicultural
Babel de vidro
Interesse em diversidade
Sinapses sem fronteiras

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