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Internacionalização

Aliança de alto nível

Programa-piloto atrai cientistas do exterior para formar novos grupos de pesquisa em São Paulo

léo ramosO casal Ruth e Victor Nussenzweig, em São Paulo: projeto temático e formação de núcleo de pesquisa na Unifespléo ramos

Dois projetos temáticos já foram aprovados no âmbito do São Paulo Excellence Chairs (Spec), um programa-piloto da FAPESP que busca estabelecer colaborações entre instituições do estado de São Paulo e pesquisadores de alto nível radicados no exterior. Um dos projetos deverá trazer para o Brasil o casal de cientistas Victor e Ruth Nussenzweig, ambos de 84 anos, brasileiros radicados nos Estados Unidos desde a década de 1960, que se tornaram referência internacional na busca de vacinas e tratamentos contra a malária. Andréa Dessen de Souza e Silva, brasileira radicada na França, também teve um projeto selecionado no âmbito do programa e vai comandar um grupo de pesquisa no Laboratório Nacional de Biociências (LNBio), em Campinas. Desde 2000 Andrea lidera um grupo de pesquisa de patogenia bacteriana do Instituto de Biologia Estrutural de Grenoble, na França.

A meta do programa Spec é atrair para o país cientistas de renome, a fim de que coordenem projetos temáticos em sua área de atuação em universidades e laboratórios paulistas. Os pesquisadores seguem vinculados a suas instituições de origem, mas se obrigam a permanecer no Brasil durante 12 semanas do ano ao longo dos pelo menos cinco anos de duração do projeto, coordenando um grupo de bolsistas da FAPESP, entre pós-doutores, doutores e até alunos de iniciação científica. “A vinda de pesquisadores com currículos de alto nível tem como objetivo nuclear grupos de pesquisa em áreas nas quais queremos ter excelência e permitir que esses grupos avancem com mais velocidade”, diz Hernan Chaimovich, assessor especial da Diretoria Científica da FAPESP. A iniciativa, segundo ele, se insere na estratégia da FAPESP de estimular a internacionalização da ciência paulista. “A missão da FAPESP é melhorar a qualidade da ciência, da tecnologia e da inovação no estado de São Paulo e é para isso que buscamos a internacionalização. Queremos que os grupos formados por iniciativas como o Spec estejam aptos a conseguir apoio em agências de fomento internacionais”, afirma. O programa está franqueado a instituições e pesquisadores de currículos notáveis interessados em estabelecer parcerias.

Pesquisas desenvolvidas nos Estados Unidos pelo casal Nussenzweig deram origem a protótipos de vacinas testados na década de 1980, que, no entanto, só conseguiram garantir imunidade por períodos muito curtos. Desde 1960, Victor e Ruth vincularam-se à Universidade de Nova York, onde trabalham até hoje – ambos no campo do parasita da malária. Atualmente o casal está engajado em duas frentes: a busca de uma vacina contra a malária causada pelo parasita Plasmodium vivax e técnicas para nocautear proteínas essenciais para o desenvolvimento do parasita.

Novos inibidores
O projeto temático que Victor e Ruth deverão coordenar na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) busca caracterizar enzimas essenciais para o desenvolvimento do plasmódio e encontrar novos inibidores, com potencial para o desenvolvimento de drogas contra a malária.  “Vou trazer um pesquisador chinês que trabalha comigo em Nova York há quatro anos e também vamos recrutar outros doutores e pós-doutores”, diz Victor. Eles trabalharão na Unifesp com pesquisadores que acolheram na Universidade de Nova York, em doutorados ou pós-doutorados, como os professores Maurício Martins Rodrigues, Sérgio Shenkman e Nobuko Yoshida. O termo de outorga do projeto deve ser assinado nas próximas semanas.

Em julho passado, Andréa Dessen de Souza e Silva tornou-se a primeira pesquisadora selecionada no âmbito do programa-piloto. Formada em engenharia química pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) em 1987, transferiu-se para os Estados Unidos há 25 anos. Antes de se fixar na França, fez doutorado na Universidade de Nova York e pós-doutorado primeiro no Albert Einsten College of Medicine e depois na Universidade Harvard. Especializou-se no estudo da estrutura de proteínas usando técnicas em bioquímica e cristalografia. “Sempre trabalhei com o estudo da estrutura de proteínas ligadas à medicina. Já trabalhei com HIV, com inflamação”, diz. Seu foco atual é a virulência de bactérias, por meio do estudo da estrutura tridimensional das proteínas que formam a parede bacteriana. O objetivo é compreender as estruturas para a síntese e a reparação da parede bacteriana e tentar bloquear processos infecciosos. “Um alvo são as estruturas que propiciam a resistência a antibióticos”, afirma. É esse o foco do trabalho que desenvolverá em Campinas.

Há tempos Andréa queria voltar ao Brasil. “Mas tenho uma posição em Grenoble, dois filhos pequenos e não queria retornar definitivamente. O formato do programa Spec foi perfeito”, diz ela, que no ano passado havia feito uma palestra no LNBio e iniciou conversas com o diretor do laboratório, Kleber Franchini, para colaborar com a instituição. Além da contratação pelo LNBio de um assistente de pesquisa que fez pós-doutorado com Andréa na França, o brasiliense David Neves, o grupo também terá dois bolsistas de doutorado e um de pós-doutorado. “Tenho uma pessoa da minha confiança coordenando o grupo em Campinas”, diz Andréa. Segundo ela, o arranjo vai permitir um forte intercâmbio entre Campinas e Grenoble, com trânsito de pesquisadores das duas instituições. Outros dois projetos estão sendo avaliados pela FAPESP no âmbito do Spec, um na área de mudanças climáticas e outro em ciência dos materiais. “As propostas podem ser feitas em qualquer área do conhecimento, desde que envolvam pesquisadores de alto nível”, diz Chaimovich.

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