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fraude

Um paper com autores fictícios

Daniel BuenoUm artigo científico que trouxe resultados robustos envolvendo um estudo sobre obesidade foi escrito por pesquisadores que não existem. Ninguém conhece os cinco autores na instituição que supostamente os abrigaria, a Escola de Ciências Médicas da Universidade de Tessália, na Grécia, assim como não há nenhuma referência sobre eles na literatura médica ou no cadastro de agências de fomento. O paper, publicado em julho na revista Biochemical and Biophysical Research Communications (BBRC), da editora Elsevier, foi prontamente retirado da base de dados da revista, mas não é aquele tipo de brincadeira já feita várias vezes, em que artigos de conteúdo falso são encaminhados para publicação apenas para mostrar pontos fracos nos processos de edição e de avaliação por pares em periódicos pouco rigorosos.

Por incrível que pareça, são consistentes os resultados do paper em questão: a constatação de que a expressão exagerada de duas proteínas nas células de gordura produz melhorias em processos metabólicos relacionados ao diabetes e à obesidade em ratos. Bruce Spiegelman, biólogo do Dana-Farber Cancer Institute em Boston, ligado à Universidade Harvard, chegara recentemente a esses resultados e os havia apresentado em seis simpósios.

Preparava-se, agora, para submetê-los a uma revista científica. Segundo disse à revista Nature, ele acredita que a fraude foi tramada para frustrar a publicação do seu trabalho, que perderia o ineditismo, e para prejudicar uma empresa que desenvolve tratamentos para doenças metabólicas da qual é cofundador. Spiegelman achou o artigo suspeito assim que o viu, porque há pouca gente no mundo estudando o assunto e os achados eram idênticos aos que obtivera. No dia 20 de julho, mandou um e-mail ao editor da revista, Ernesto Carafoli. Alertou que não encontrara nenhuma outra referência sobre os autores e que o e-mail usado pelo autor correspondente era privado, e não vinculado a alguma instituição acadêmica. Carafoli, professor de bioquímica da Universidade de Pádua, na Itália, foi averiguar e constatou a falsificação. “Mas o artigo era impecável e quem o escreveu é, evidentemente, um pesquisador”, defende-se Carafoli.

O editor da BBRC justifica a confusão pelo fato de o sobrenome do autor principal, Vezyraki, ser o mesmo de um conhecido pesquisador sobre obesidade na Grécia, cujo primeiro nome, contudo, é Patra, e não Alkistis, o fantasma do paper. Em nota enviada à revista Nature, a editora Elsevier admite que foi alvo de um esquema fraudulento e informa que está aprofundando a investigação para avaliar se se tratou de um crime praticado pela internet, como parece ser.

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