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Obituário 

Homem público

O ex-deputado Plínio de Arruda Sampaio teve influência no plano de governo que abriu caminho para a criação da FAPESP

Plínio em campanha pelo governo paulista, em 1990: trajetória política entre a democracia cristã e o socialismo

PAULO VITALE / aePlínio em campanha pelo governo paulista, em 1990: trajetória política entre a democracia cristã e o socialismoPAULO VITALE / ae

O ex-deputado Plínio Soares de Arruda Sampaio, morto aos 83 anos em decorrência de um câncer, foi enterrado no dia 9 de julho, exatos 55 anos depois de o então governador Carvalho Pinto (1910-1987) ter enviado à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo a Lei 5.444, que consolidava seu Plano de Ação do Governo (Page) e sua visão de estado. O plano, que entre diversas propostas previa a constituição de uma fundação para administrar recursos orçamentários destinados à “investigação técnica e científica”, teve forte influência de Arruda Sampaio. O Page virou lei no dia 17 de novembro de 1959 e, 11 meses depois, em 18 de outubro de 1960, Carvalho Pinto sancionou a Lei 5.918, que criou a FAPESP.

Promotor público formado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) e ex-presidente da Juventude Universitária Católica, ocupou o cargo de subchefe da Casa Civil de Carvalho Pinto e foi indicado coordenador da equipe de técnicos e especialistas responsável pela elaboração do conjunto de documentos que compunham o Page. Também foi secretário dos Negócios Jurídicos do governo estadual e, entre 1961 e 1962, trabalhou na prefeitura de São Paulo na gestão de Francisco Prestes Maia (1896-1965).

Arruda Sampaio elegeu-se deputado federal pelo Partido Democrata Cristão (PDC) em 1962 e foi relator do projeto de reforma agrária que integrava as reformas de base do governo João Goulart. Após o golpe de 1964, teve os direitos políticos cassados por 10 anos, pelo Ato Institucional nº 1. Exilou-se no Chile por seis anos, a convite do então presidente do país, o democrata-cristão Eduardo Frei, trabalhando na Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). Mudou-se para Washington em 1970 para trabalhar num programa da FAO e do Banco Interamericano de Desenvolvimento. Nos Estados Unidos, fez mestrado em economia agrícola na Universidade Cornell. Voltou ao Brasil em 1976, filiou-se ao MDB, deu aulas na Fundação Getulio Vargas, fundou o Centro de Estudos de Cultura Contemporânea e participou da campanha pela redemocratização.

Deixou o MDB em 1978 e participou da fundação do Partido dos Trabalhadores. Foi eleito deputado federal constituinte, em 1986, com 63,9 mil votos. Na Constituinte, foi membro da Comissão de Redação, da Comissão de Sistematização e da Comissão da Organização do Estado e presidiu a Subcomissão de Municípios e Regiões. Fez parte do bloco suprapartidário de articulação da Igreja Católica, como membro da Comissão de Acompanhamento da CNBB na Constituinte.

Foi candidato do PT ao governo do estado, em 1990, sendo derrotado por Luiz Antonio Fleury Filho, do PMDB. Desfiliou-se do PT em 2005 e ajudou a fundar o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL). Em 2010 candidatou-se à Presidência da República pelo PSOL. Recebeu 886,8 mil votos e ficou em quarto lugar no pleito que elegeu Dilma Rousseff. Era casado com Marietta Ribeiro de Azevedo e tinha seis filhos – um deles, Plínio de Arruda Sampaio Junior, é professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

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