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Carta da Editora | 234

Universidades e empresas

A interação entre universidades e institutos de pesquisa é um tema presente em várias reportagens desta edição. A ideia de que essa interação é inexistente ou insuficiente permeia há tempos o debate no Brasil, e reportagem sobre dois livros recentemente publicados, que comparam o país com outras nações em desenvolvimento, indica que as relações formais entre as instituições de pesquisa e o setor privado crescem e se consolidam. O Brasil ainda está longe do patamar de Coreia do Sul ou China, mas a análise dos resultados apresentados contradiz o senso comum de que a pesquisa científica tem pouco impacto no desenvolvimento econômico do país. Considerando-se ainda que as pesquisas retratadas não contemplam interações como consultorias e contratos individuais de prestação de serviços por pesquisadores, muitos dos quais realizados por meio das fundações universitárias, o cenário é bem diferente do que tem sido propagado.

Duas reportagens exemplificam interações bem-sucedidas entre o setor privado e a academia. A que está na capa aponta que uma das origens das empresas que compõem a significativa indústria nacional de pequenos aviões são as universidades e instituições de pesquisa e mostra como muitas trabalham em conjunto com esses organismos no desenvolvimento de inovações para seus produtos. Outra reportagem registra o primeiro grande sucesso de uma empresa brasileira de biotecnologia, a Recepta, que licenciou para uma empresa norte-americana a propriedade intelectual para o desenvolvimento de um medicamento contra câncer. A Recepta desenvolve seus produtos, os anticorpos monoclonais, em parceria com instituições como o Instituto Ludwig de Pesquisas contra o Câncer, de Nova York, a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e o Instituto Butantan, com o apoio de agências como a FAPESP, a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Um exemplo de interação em sentido inverso, na qual a instituição pública solicita a contribuição da iniciativa privada para executar um projeto, é retratado na reportagem sobre o anel de luz síncrotron Sirius. O Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) selecionou, em parceria com a FAPESP e a Finep, oito empresas para enfrentar 13 desafios científicos e tecnológicos relacionados à empreitada.

A superação de obstáculos científicos, técnicos e também políticos é contada em reportagem sobre o feito da sonda New Horizons, que chegou a Plutão após nove anos de viagem. A repercussão pela mídia internacional do sucesso da missão não exime Pesquisa FAPESP de registrar o feito e discutir o que se pode esperar em termos de avanço do conhecimento sobre os recantos do nosso Sistema Solar com os dados sendo transmitidos pelo equipamento.

O ofício da comunicação da ciência, ou o jornalismo científico, que se propõe a discutir e divulgar os resultados das pesquisas científicas e tecnológicas e seus processos de criação, é objeto de uma série que marca os 20 anos do primeiro boletim Notícias FAPESP, publicação que, após 46 edições, deu origem a esta revista. A primeira reportagem apresenta o perfil de dois pioneiros nessa área, Júlio Abramczyk e José Hamilton Ribeiro. Aos pesquisadores, cuja produção é o alicerce do nosso trabalho, e aos leitores da Pesquisa FAPESP, nosso muito obrigada.

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