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cerrado

Chuva de micróbios no solo

Campo sujo, como na serra dos Pireneus, Goiás, é um dos tipos do Cerrado

Angela de paula / Wikimedia Commons Campo sujo, como na serra dos Pireneus, Goiás, é um dos tipos do CerradoAngela de paula / Wikimedia Commons

No inverno do Planalto Central, quando praticamente não chega água ao chão, de repente chuvas torrenciais despencam do céu como se um imenso balde tivesse entornado. As consequências disso na vegetação do Cerrado são bastante conhecidas, mas não nos microrganismos que vivem no solo. Os efeitos sobre esses seres diminutos começam agora a ser desvendados pelo grupo de pesquisa liderado pelo microbiologista Ricardo Henrique Krüger, da Universidade de Brasília (PLoS One, 5 de fevereiro). O sequenciamento do DNA de amostras de microrganismos do solo coletadas em quatro tipos de vegetação do Cerrado em setembro, depois de mais de três meses sem chuva, e em fevereiro, quando muita água já tinha encharcado o chão, indicou uma variação grande de micróbios presentes e da função por eles desempenhada de acordo com as estações e as características da vegetação. Bactérias resistentes a altas temperaturas predominaram no campo sujo e no Cerrado típico, em relação às formações mais sombreadas. Fungos especializados em decompor matéria orgânica se mostraram abundantes na estação seca nas matas de galeria, onde existe maior queda de folhas. O estudo encontrou nos microrganismos uma grande quantidade de genes relacionados à parede celular e à dormência, interpretados como uma reação ao ambiente inóspito, e à aquisição de ferro, comum no solo do bioma. A interação com as plantas sugere que esses organismos invisíveis a olho nu têm um papel na capacidade do Cerrado de reagir às mudanças climáticas.

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