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Renovação intensa

3M investe em pesquisa e desenvolvimento e cria métrica própria para impulsionar a inovação

Camila Cruz Durlacher, diretora de P&D da empresa, à esquerda, com parte de sua equipe em Sumaré (SP)

léo ramos Camila Cruz Durlacher, diretora de P&D da empresa, à esquerda, com parte de sua equipe em Sumaré (SP)léo ramos

Usar a ciência para melhorar a vida das pessoas e, ao mesmo tempo, trabalhar continuamente na atualização da linha de produtos. Essas diretrizes norteiam a atuação dos 8,2 mil profissionais que trabalham nas unidades de pesquisa e desenvolvimento (P&D) da norte-americana 3M ao redor do planeta. Presente no Brasil há 70 anos, a empresa mantém um centro de classe global no município de Sumaré, a cerca de 100 quilômetros de São Paulo. “Trata-se do principal laboratório de pesquisa da 3M no hemisfério Sul”, destaca Camila Cruz Durlacher, 42 anos, diretora de P&D do grupo no país. A linha de produtos da empresa é diversificada e inclui adesivos, filtros industriais, resinas odontológicas, equipamentos de proteção individual (EPIs), estetoscópios e cabos para transmissão de energia, além dos populares blocos de recado Post-it, as fitas adesivas Durex e as esponjas de limpeza Scotch-Brite.

Uma prova de que a inovação é mesmo uma diretriz que orienta o negócio da empresa é o fato de 35% de suas vendas globais virem de produtos lançados nos últimos cinco anos – no Brasil, o percentual é um pouco inferior, de 28%. “Nossa meta global é elevar esse índice para 40% em 2020. A renovação agressiva de produtos é uma de nossas marcas”, conta Camila, graduada em Química pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e mestre em Ciências e Engenharia de Materiais pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). A métrica interna que direciona os processos de inovação da 3M foi batizada de Índice de Vitalidade de Novos Produtos (NPVI), que mede o percentual das vendas totais que advém de produtos inovadores lançados nos últimos cinco anos, em qualquer lugar do mundo. Criada pelos técnicos da empresa nos anos 1980, hoje ela é usada por outras companhias como Apple, Braskem, Dow e Natura, como forma de medir o nível de inovação das empresas.

Empresa
3M
Centro de P&D
Sumaré (SP)
Nº de funcionários
162
Principais produtos
Adesivos, filtros industriais, resinas, esponjas, estetoscópios e cabos de transmissão de energia

A constante renovação do portfólio está alicerçada em novos investimentos em P&D. Em 2015, eles responderam por US$ 1,8 bilhão, o equivalente a 6% das vendas mundiais, que atingiram US$ 30,3 bilhões no ano passado. No Brasil, cerca de 5% do faturamento, de R$ 3,5 bilhões em 2015, foi destinado a P&D. O resultado desse investimento traduz-se na elaboração de dezenas de patentes e no lançamento de 80 a 100 novos produtos por ano no país. “Ao longo de nossa história, já depositamos 5,8 mil patentes [a maioria elaborada em outros países] no Brasil. Desde 2013, contabilizamos uma média anual de 47 patentes e registros de desenho industrial – cerca de quatro por mês”, diz Camila. Globalmente, a empresa conquistou no ano passado sua patente de número 100.000.

O esforço contínuo voltado à criação de novas soluções tecnológicas tem sido reconhecido. Em 2015, a 3M foi apontada pela terceira vez como a companhia mais inovadora do país, segundo a pesquisa Best Innovator, realizada anualmente pela consultoria A.T. Kearney com apoio da revista Época Negócios. “A 3M do Brasil é uma fonte de novidades para outras subsidiárias do mundo. A empresa não cria apenas produtos, mas sistemas completos em torno deles”, escreveram os organizadores do Best Innovator na apresentação do prêmio.

Análise de microrganismos em laboratório de segurança alimentar

Léo RamosAnálise de microrganismos em laboratório de segurança alimentarLéo Ramos

As inovações da 3M são classificadas em três categorias: incremental, adjacente e radical. As de classe 3, relativas à inovação incremental, têm como exemplo uma nova versão da Scotch-Brite com melhor desempenho. As de classe  4, da categoria adjacente, são produtos e tecnologias já existentes, mas que sofreram modificações ou passaram a ser direcionados a um novo mercado. Pode ser representada por um filtro industrial, desenvolvido pela empresa com base em outros filtros já existentes do seu portfólio, para o mercado brasileiro de petróleo e gás. A categoria de classe 5, a de inovação radical, representa os itens inéditos criados para atender a um segmento de mercado em que a empresa ainda não atuava, como um líquido supressor de poeira.

No Brasil, as novidades são criadas por um time de 162 profissionais, formado por químicos, engenheiros (mecânicos, químicos, de materiais e físicos), biólogos e farmacêuticos. Metade deles tem ou está cursando pós-graduação – 10% são doutores, 24% mestres, 7% mestrandos e 8% possuem cursos de Master of Business Administration (MBA). A equipe de P&D dá suporte às 23 unidades de negócios da companhia no país, sendo que as maiores contam com laboratórios dedicados. O grupo tem cinco fábricas em São Paulo e uma unidade em Manaus (AM), além das empresas Incavas, no Rio Grande do Sul, e Capital Safety, no Paraná. Ao todo, empregam 3,8 mil funcionários.

Teste para caracterização de grãos minerais usados no desenvolvimento de abrasivos

léo ramosTeste para caracterização de grãos minerais usados no desenvolvimento de abrasivosléo ramos

Com operação em mais de 70 países, a 3M foi criada em 1902 nos Estados Unidos para atuar na exploração mineral com o nome de Minnesota Mining and Manufacturing Co. – daí a explicação para os três emes de sua marca. O negócio não prosperou e, poucos anos depois, a 3M passou a fabricar abrasivos. Esse foi o primeiro produto da empresa, que hoje é dona de um portfólio formado por mais de 55 mil itens.

Mudanças na estrutura
A atividade de P&D no Brasil é uma das mais antigas – surgiu pouco tempo depois da criação da primeira fábrica no país, em 1946. “Nessas sete décadas em que a 3M atua por aqui, o que mudou foi a forma como estruturamos a P&D. No passado, o setor estava atrelado à área de manufatura. Depois, passou a reportar para as divisões de negócio e, no fim dos anos 1990, foi finalmente criada uma diretoria técnica de P&D”, afirma Camila.

Avaliação morfológica de fitas dupla face

Léo RamosAvaliação morfológica de fitas dupla faceLéo Ramos

Um momento importante na trajetória da multinacional no Brasil ocorreu em 2008 com a inauguração do Laboratório de Pesquisa & Desenvolvimento em Sumaré (SP), que unificou as atividades inovativas desenvolvidas na fábrica e integrou a rede mundial de P&D, formada hoje por 35 unidades. Com isso, o Brasil passou a contar com um laboratório de classe global, além de não estar mais voltado exclusivamente à criação de produtos com base em demandas locais, como acontecia até então. Cinco anos depois, em 2013, a empresa investiu US$ 13 milhões na ampliação do Laboratório de P&D e de seu Centro Técnico para Clientes (CTC), este último inaugurado em 2005.

“O CTC é o elemento de ligação entre a P&D e o cliente”, explica o engenheiro químico Edmilson Silva Cavalcanti, 51 anos, responsável pelo desenvolvimento de novas aplicações para os produtos da divisão de fitas e adesivos industriais. “Nele fazemos avaliações de nossos produtos antes da entrega final, realizamos treinamentos com os clientes e executamos testes de validação”, diz Cavalcanti, na 3M desde 1990. Embraer, Natura, Vale e Santander estão entre os principais clientes da multinacional, que também atende montadoras automotivas, fabricantes de itens de linha branca, indústrias farmacêuticas, hospitais e companhias dos setores de óleo e gás e de alimentos, entre outros.

070-073_Pesquisa Empresarial 3M_243-02Entre as centenas de inovações criadas pelos pesquisadores da 3M no Brasil, vale destacar um líquido supressor de poeira dirigido às indústrias mineradoras. Esse produto é aspergido nos vagões transportadores de minério de ferro, que são abertos, formando uma película protetora para reter a poeira e impedir a perda de material pelo caminho durante o desloca-mento do trem. “Criamos esse produto para o mercado local. Devido ao seu sucesso, hoje é vendido e produzido em outras subsidiárias”, conta o químico João Roberto Talamoni, 56 anos, um dos pesquisadores mais experientes da 3M. Com 29 anos de casa, é o coordenador técnico de um dos laboratórios da empresa e dedica-se à síntese de polímeros. Outro produto marcante desenvolvido no Brasil foi um filtro industrial de alta vazão projetado para o mercado de petróleo e gás. O desenvolvimento local foi motivado principalmente pela regulamentação de conteúdo nos contratos de concessão no mercado de óleo e gás, com o objetivo de incrementar a participação da indústria nacional em bases competitivas nos programas de exploração e produção. “Estivemos na liderança desse desenvolvimento, que contou com um time envolvendo a 3M Estados Unidos, México e Cingapura”, ressalta a engenheira química Rosana Emi Tamagawa, 43 anos. “O produto nasceu de uma necessidade do mercado nacional, mas hoje está disponível globalmente.” Supervisora de laboratório que dá suporte à divisão de negócios da 3M, Rosana formou-se na Escola de Engenharia de Lorena e tem mestrado e doutorado pela Unicamp e pós-doutorado pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT).

O time de cientistas brasileiros também está envolvido na criação de uma nova geração de fitas acrílicas dupla face, conhecidas como VHB (very high bond). O produto tem alto poder de adesão para fixar diferentes materiais, reduzindo o tempo gasto para aplicação. Em substituição a pregos, rebites e parafusos, essas fitas são usadas, por exemplo, para colar vidros em fachadas de prédios, chapas na carroceria de ônibus, peças de cabines de aviões e componentes estruturais de produtos da linha branca. “Em janeiro deste ano, viajei para a Coreia do Sul para encontrar a equipe global envolvida no desenvolvimento das novas fitas VHB, previstas para ser lançadas no segundo semestre deste ano”, conta a engenheira química Márcia Ferrarezi, 37 anos, líder do projeto no país, que tem mestrado e doutorado em Ciências e Engenharia de Materiais pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

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