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Apresentação

Pesquisa Inovativa na Pequena Empresa – 20 anos do Pipe FAPESP

Carlos Henrique de Brito Cruz, Diretor Científico da FAPESP

Em dezembro de 1997 a FAPESP anunciou, em cerimônia com a presença do governador Mario Covas, a primeira fornada de 30 projetos selecionados no programa Pipe (Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas). O Pipe FAPESP foi, quando criado, um programa completamente original no ambiente de financiamento à pesquisa no Brasil, oferecendo recursos para pesquisadores vinculados a pequenas empresas no estado de São Paulo – e não a universidades ou institutos – para apoiar atividades de pesquisa em ciência e tecnologia realizadas dentro da empresa e que contribuíssem para aumentar sua competitividade. O ponto era que a empresa devia ser um dos lugares da pesquisa, tanto ou até mais que universidades e institutos.

O então diretor científico, José Fernando Perez, e sua equipe demonstraram, como de hábito, enorme capacidade e determinação para formular o programa e colocá-lo em execução de forma extremamente bem-sucedida. Ao criar o programa, a FAPESP explicitou entre seus objetivos: “aumento da competitividade da empresa e estimular a criação de ‘cultura de inovação permanente’”. Neste suplemento especial de Pesquisa FAPESP essa história é contada, especialmente como a ideia do programa surgiu graças à inserção internacional do professor Alcir Monticelli (ver reportagem), falecido em 2001, que, à época, era professor titular na Faculdade de Engenharia Elétrica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Vinte anos depois o Pipe FAPESP continua apoiando a pesquisa em pequenas empresas mais vigorosamente do que nunca, graças à solidez institucional da FAPESP e ao fato de o governo estadual ter (1) mantido uma política fiscal prudente, que garante o necessário equilíbrio orçamentário e, ao mesmo tempo, (2) continuar apoiando a Fundação conforme estipula o artigo 271 da Constituição paulista: “O estado destinará o mínimo de um por cento de sua receita tributária à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, como renda de sua privativa administração, para aplicação em desenvolvimento científico e tecnológico”.

Os resultados do Pipe têm sido determinantes para o desenvolvimento científico, tecnológico, econômico e social de São Paulo. Uma avaliação do programa realizada em 2009 por pesquisadores do Departamento de Política Científica e Tecnológica da Unicamp identificou, entre outras realizações, que nas empresas com projetos apoiados:

• houve aumento de 29% na quantidade de empregos;
• houve aumento de 60% na quantidade de empregados com graduação completa;
• houve aumento de 91% na quantidade de empregados com doutorado completo;
• para cada R$ 1 aplicado pela FAPESP a empresa mobilizou (de seus recursos, de seu faturamento ou de outras fontes) R$ 10,50.

A vitalidade do Pipe mostra que os objetivos do programa vêm sendo obtidos: houve quase 900 solicitações de financiamento somente entre janeiro e novembro de 2017, das quais foram aprovadas 300, resultando em mais de uma aprovação por dia útil. Como seria de se esperar, as pequenas empresas apoiadas se concentram em localidades onde há boas universidades ou institutos de pesquisa, que formam empreendedores capazes de usar resultados modernos em ciência e tecnologia para criar oportunidades de negócios competitivas. Recentemente a FAPESP passou a oferecer oportunidades para que as pequenas empresas colaborem internacionalmente e para que as lideranças dos projetos tenham treinamento em negócios no Brasil, por meio do programa Pipe Empreendedor e no exterior, graças ao acordo com a Royal Academy of Engineering do Reino Unido com apoio do Fundo Newton.

A quantidade de empregos nas empresas apoiadas tem crescido (ver figura) e os setores abrangidos são os mais variados, como mostra este suplemento: embriões bovinos, equipamentos hospitalares, balões cativos para internet e segurança, controle biológico, realidade virtual, inteligência artificial, agricultura de precisão, radares, propulsão de satélites e muitos outros. Tudo feito por pesquisadores em empresas no estado de São Paulo. As pequenas empresas apoiadas pelo programa, nem todas startups, mas todas pequenas empresas de base tecnológica, continuam a criar empregos, valor e riqueza para os brasileiros. Não há muitos paralelos no Brasil ou no mundo para programas dessa natureza.

  1. BRITO CRUZ, C. H. Bacon, Smith, a universidade e a empresa. Folha de S.Paulo, p. 3, 24 dez. 1997.
  2. SALLES-FILHO, S. et al. Evaluation of ST&I programs: a methodological approach to the Brazilian Small Business Program and some comparisons with the SBIR program. Research Evaluation. 20(2), jun. 2011, p. 159-71.
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