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Carta da editora | 272

O lugar dos museus

Imagens do Museu Nacional em chamas chocaram o mundo. A instituição bicentenária, sediada em um palácio imperial, guardava plantas e animais coletados em expedições pelo Brasil desde o século XIX, múmias e minerais reunidos pela família real portuguesa, fósseis pré-históricos e meteoritos, peças de povos indígenas, alguns extintos. Um acervo de importância inestimável.

Há cinco edições esta revista registrava os 200 anos de história do Museu Nacional. Este número especial apresenta um panorama do acervo e das atividades desenvolvidas no museu, e também de congêneres nacionais e no exterior, discutindo os seus problemas e possíveis caminhos para garantir a preservação das valiosas coleções e a sustentabilidade dessas instituições.

Os chamados museus universitários desenvolvem atividades de exposição, formam recursos humanos e fazem pesquisa. Essa caracterização é central na discussão sobre gestão e fontes de financiamento. Duas reportagens mostram a organização e o custo de manter o Museu Nacional, e como funcionam e são financiadas instituições semelhantes em outros países.

Christina Queiroz viajou ao Rio de Janeiro e apresenta a pós-graduação em antropologia social – um dos seis programas da instituição, sendo dois de excelência. A recomposição dos acervos etnográficos e linguísticos será feita em parceria com povos indígenas e comunidades. Em Belém, Ricardo Zorzetto retratou o Museu Paraense Emílio Goeldi, que reúne coleções de história natural, arqueologia e antropologia da região amazônica. Marcos Pivetta e Léo Ramos Chaves foram à serra da Capivara, Piauí, conhecer o Museu do Homem Americano e o futuro Museu da Natureza, a ser inaugurado em dezembro. Os projetos são de Niède Guidon, que aos 85 anos se prepara para deixar o comando da fundação que criou.

O Palácio de São Cristóvão abrigava a parte expositiva, mas o complexo museológico se espalha pela Quinta da Boa Vista. Por isso, o incêndio afetou os acervos de formas distintas – ao menos 10% restaram. O herbário escapou, enquanto as seções de arqueologia, paleontologia e geologia sofreram imensas perdas, como os fósseis de pterossauros, e zoologia, que ficou sem as coleções de entomologia e aracnologia. Esse bloco trata ainda do Museu de Zoologia da USP, da recuperação de coleções do Instituto Butantan depois do incêndio de 2010, do Jardim Botânico do Rio de Janeiro e do Museu de Arqueologia e Etnografia da USP.

A guarda de um acervo demanda trabalho contínuo e multidisciplinar de conservação e preservação, como mostra reportagem à página 80. Uma ferramenta importante é a digitalização. O Arquivo Histórico, a memória institucional do Museu Nacional, foi destruído pelo fogo, mas há planos para sua recomposição a partir de reproduções. A integridade dos edifícios que hospedam coleções é fundamental. A reconstrução do palácio precisará incorporar modernas técnicas de segurança, de forma a garantir a integridade das peças e dos visitantes. Essa discussão já vem sendo feita no Museu Paulista, fechado desde 2013.

Esperamos com esta edição contribuir para a reflexão sobre o lugar desses museus e os caminhos para a sua valorização.

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