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Boas práticas

Punição após 40 anos de assédio em Harvard

Nelson ProvaziA Universidade Harvard, dos Estados Unidos, cassou o título de professor emérito do sociólogo Jorge Dominguez, especialista em estudos latino-americanos de sua Faculdade de Artes e Ciências e vice-reitor de assuntos internacionais da instituição entre 2006 e 2015, e proibiu-o de dar aulas e de participar de eventos em suas instalações. A punição ocorreu depois de uma investigação concluir que ele assediou sexualmente pelo menos 18 alunas e funcionárias ao longo das últimas quatro décadas. A universidade também prometeu investigar o comportamento de seus dirigentes, em meio a críticas de que o pesquisador foi mantido nos quadros de Harvard e até promovido apesar de repetidas denúncias de assédio.

Em um relatório de 52 páginas divulgado pelo jornal The Boston Globe, a comissão interna que investigou Dominguez apontou uma “falha institucional prolongada”. Informou também que o comportamento do pesquisador era amplamente conhecido, a ponto de as alunas recomendarem umas às outras que não fossem sozinhas a reuniões convocadas por ele no final da tarde e usassem roupas largas quando o encontrassem a fim de desestimular suas investidas.

Claudine Gay, diretora da Faculdade de Artes e Ciências de Harvard, afirmou em um e-mail dirigido à comunidade acadêmica que a investigação encontrou um padrão duradouro de comportamento em Dominguez que violava as políticas de segurança e de combate à discriminação no ambiente educacional. “Estou chocada com as descobertas do relatório e com o coração partido por aquelas que tiveram que aguentar os comportamentos descritos”, disse. Cubano radicado nos Estados Unidos desde o início dos anos 1960, Dominguez, de 74 anos, graduou-se na Universidade Yale e chegou a Harvard em 1968 para fazer doutorado – quatro anos depois, começou a trabalhar como docente.

Ele renunciou ao posto de professor em junho de 2018, acusado de assédio por várias mulheres no movimento #metoo, que deu voz a milhares de acusações de importunação e agressão sexual sofridas no ambiente acadêmico dos Estados Unidos. Entre as mulheres que denunciaram o sociólogo, um destaque foi a cientista política Terry Karl, 71 anos, hoje professora emérita da Universidade Stanford, que havia acusado formalmente Dominguez de assédio em 1983 quando era professora assistente de Harvard. Na época, o caso resultou em uma punição branda. Dominguez foi suspenso de funções administrativas por três anos, mas depois seguiu a carreira normalmente – e envolveu-se em novas acusações de assédio. Karl faz críticas duras a Harvard. “Nunca fui apoiada pela universidade, nem na época nem agora”, escreveu. Segundo seu relato, depois que Dominguez foi punido, em 1983, um dirigente de Harvard sugeriu que ela deixasse a universidade e até lhe prometeu um posto em Yale.

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