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Tecnociência

A arqueologia do milho e do feijão

O agrônomo Fábio de Oliveira Freitas, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, descobriu a possível origem do milho (Zea mays) e do feijão (Phaseolus vulgaris) plantados pelos índios brasileiros nos últimos milhares de anos e revelou informações dos intercâmbios entre as populações primitivas das Américas. Freitas analisou amostras de milho arqueológico – com idades entre 550 e 1.000 anos, encontradas no Vale do Peruaçu, no norte de Minas Gerais – e contemporâneo, plantado por índios de São Paulo, Minas, Mato Grosso e do Paraná, e outras fornecidas por agricultores brasileiros e do Paraguai.

O pesquisador complementou os dados com informações de estudos que investigaram grãos arqueológicos de países andinos e amostras atuais coletadas do sul dos Estados Unidos até o Chile. Ao analisar o gene Adh2 dessas amostras, constatou que existiam três variantes. Todas ocorrem no milho do México, onde se estima que a planta foi domesticada há 7 mil anos. Na América do Sul, porém, houve uma nítida separação. Nos Andes, do Peru ao Chile, havia um milho com uma variante mais simples, chamada primitiva, provavelmente levado para a região por uma migração ocorrida há 5 mil anos. No Brasil, o milho tinha outro tipo de variante, a complexa, e pode ter sido trazido por migrantes que entraram na América do Sul pelo Panamá há 2 mil anos e se adaptaram às regiões de terras baixas.

No estudo, aceito para publicação no Journal of Archeological Sciences, Freitas sugere que houve pouco intercâmbio, ao menos em termos alimentares, entre os grupos que habitavam essas duas regiões distintas, uma vez que somente na porção sul do continente detectou um padrão diferente: características do milho dos Andes em amostras recentes do Paraguai e de milho das terras baixas em material arqueológico do Chile. A análise das amostras de feijão levou a resultados semelhantes.

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