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Inovação limitada

Compra de máquinas e equipamentos é o principal investimento tecnológico de empresas, segundo IBGE

BRAZAs indústrias brasileiras investiram 3,84% de seu faturamento em inovação tecnológica, em 2000, de acordo com a Pesquisa de Inovação Tecnológica (Pintec), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Das 70 mil empresas industriais com dez ou mais pessoas ocupadas consultadas, 31,5% tinham implementado inovações de produtos e/ou processo, entre 1998 e 2000. Das 70 mil empresas, 6,3% inovaram em produtos, 13,9% nos processos de produção e 11,3% nos produtos e processos. O porcentual de empresas que criaram foi de 17,6%. Dentre elas, apenas um quarto apresentou as novidades ao mercado nacional.

Mas, para 76,6% das empresas, a principal atividade inovadora se traduz na compra de máquinas e equipamentos, independentemente do tamanho da empresa. A compra de máquinas no total dos gastos em inovação diminui na razão inversa do porte das empresas, mas ainda assim representa, nessa categoria, mais de 40%. Essa conclusão bate com os resultados da pesquisa “A Indústria e a Questão Tecnológica”, patrocinada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), divulgada no início de agosto.

O investimento das empresas em máquinas com mais tecnologia contribui para a inovação de processos. “Entretanto, mesmo sendo uma parte importante da atividade inovadora, a compra de equipamentos não substitui, em geral, a atividade de criação de conhecimento, denominada genericamente de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D)” , observa Carlos Henrique de Brito Cruz, reitor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Estudioso da questão da Inovação, Brito observa que sem atividades de P&D empresariais não será possível desenvolver a economia brasileira.

A Pintec identificou 41,6 mil pessoas ocupadas em P&D nas empresas consultadas, sendo que a metade tinha formação superior. Constatou ainda que 48,84% desse pessoal se dedicava exclusivamente à P&D, enquanto 51,16% tinha tempo parcial. De acordo com Brito, o número de pessoas com nível superior envolvidas em P&D mostra que há muito pouca atividade de criação de conhecimento nas empresas no Brasil. “Num universo de 70 mil empresas, há menos de uma pessoa com nível superior em cada empresa dedicada a criar conhecimento. Isto é muito pouco”, conclui.

Metodologia internacional
Em ordem decrescente, a segunda e terceira atividades inovadoras no ranking da Pintec são complementares à compra de máquinas tecnologicamente mais avançadas: são elas, respectivamente, o treinamento, de acordo com 59,06% das empresas consultadas, e os projetos industriais, na avaliação de 44,08%. No pólo oposto, com menor relevância, encontra-se a aquisição de conhecimento externo, não incorporado às máquinas.

A pesquisa, realizada pela primeira vez no país, é resultado de parceria do IBGE com a Finep, do Ministério da Ciência e Tecnologia, e será atualizada a cada três anos. Ela utiliza metodologia aplicada internacionalmente, o que permite comparações com o desempenho de países da União Européia, Canadá, Austrália, entre outros. A taxa de inovação das empresas brasileiras é muito semelhante à da Espanha, onde 34,8% delas investem 1,86% no desenvolvimento de novos produtos e processos. Ali, também, os gastos se concentram nos itens máquinas e equipamentos (41,28%).

Os setores industriais que mais inovaram, segundo a Pintec, atingindo taxas superiores a 60%, foram, por exemplo, o de fabricação de máquinas para escritório e equipamentos de informática (68,5%), material eletrônico básico (62,9%), aparelhos e equipamentos de comunicações (62,1%), entre outros, que igualmente se caracterizam pela rápida incorporação de conhecimentos técnico-científicos. As taxas mais baixas foram encontradas nos grupos de atividades extrativas, exceto os setores de fabricação de celulose e outras pastas (51,8%) e do refino de petróleo (39,4%).

Pintec também constatou que o número de empresas que realizam P&D em caráter ocasional supera aquele das que investem de forma contínua. No primeiro caso, está a grande maioria das empresas com até 99 pessoas ocupadas; e no segundo, a grande maioria das empresas com cem funcionários ou mais. A primeira conclusão é que, quanto maior a empresa, mais se investe continuamente em P&D. Enquanto na menor faixa de tamanho, apenas 27,8% realizam P&D sistematicamente, nas maiores empresas este porcentual é de 79,9%.

A grande maioria das empresas consultadas pela Pintec afirma implementar inovações para manter sua participação no mercado (79,60%), ampliar essa participação (71,02%) ou para melhorar a qualidade de seus produtos (78,27%).

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