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Saúde

Lixo e trabalho

“O cotidiano dos sujeitos que vivem da reciclagem do lixo ainda é pouco trabalhado pela saúde pública brasileira”. Esta foi a justificativa para a elaboração do artigo “Lixo, trabalho e saúde: um estudo de caso com catadores em um aterro metropolitano no Rio de Janeiro”, que apresenta os resultados de uma investigação sobre as condições de vida de 218 catadores de materiais recicláveis da capital carioca. O texto é de autoria de Marcelo Porto, da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/Fiocruz), Denise Juncá, da Universidade Federal Fluminense, Raquel Gonçalves, da Secretaria Municipal do Bem-estar Social da Prefeitura de Rio das Ostras (RJ), e Maria Filhote, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Com base em um inquérito semi-estruturado, os pesquisadores ouviram os catadores no que diz respeito às percepções de suas condições de trabalho e saúde. A proposta do questionário foi construir um perfil geral dessas pessoas e, dessa forma, possibilitar uma maior aproximação com o “mundo do lixo”. “Os trabalhadores entrevistados percebem o lixo como fonte de sobrevivência, a saúde como capacidade para o trabalho e, portanto, tendem a negar a relação direta entre o trabalho e problemas de saúde”, revela o estudo. Os riscos levantados pelos pesquisadores apontam para a elevada periculosidade dessa atividade, agravadas pelas condições de vida que apresentam, inclusive no que se refere aos locais de moradia. “Se a associação automática entre lixo e doença é pouco reconhecida, não há como ignorar que inúmeros são os riscos realmente existentes no trabalho dos catadores, riscos esses que podem ser exemplificados por meio dos acidentes relatados durante a pesquisa, podendo gerar lesões permanentes ou mesmo óbitos”, conclui o artigo. Os pesquisadores sugerem a construção de políticas públicas que integrem diferentes dimensões do problema, como inclusão social, preservação ambiental, saúde pública e o resgate da dignidade desses trabalhadores.

Cadernos de Saúde Pública vol.20 – Nº6 – Rio de Janeiro – nov/dez – 2004

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