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Resenha

A guerra silenciosa

Guerra civil: estado e trauma/ Luis Mir / Geração Editorial, 962 páginas, R$79,00

Ligamos a televisão e, com horror, vemos imagens da guerra civil nos Bálcãs ou mesmo a situação caótica do Iraque sem nos darmos conta de que, ao nosso lado, já há cinco séculos, o Brasil vive uma guerra civil aberta e que atinge a todos. Essa é a tese apresentada por Luís Mir nas quase mil páginas de seu novo livro, um impressionante estudo sobre o problema da violência cotidiana no país. Os números são atordoantes: aproximadamente 150 mil pessoas morrem violentamente no Brasil por ano e, desses óbitos, cerca de 56 mil são vítimas de assassinatos. Com apenas 3% da população do globo, o país abriga 13% dos homicídios mundiais. E os custos dessa tragédia não são apenas humanos: o atendimento a essas pessoas consome cerca de R$ 21 bilhões anuais, 40% de tudo o que se gasta com saúde (em torno R$ de 52 bilhões anuais). No Rio de Janeiro e e, São Paulo, os dados são ainda mais graves: os Governos Estaduais vêem-se obrigados a usar 60 % do seu já diminuto orçamento com saúde apenas para dar conta do atendimento com as vítimas dessa violência cotidiana. “Se empilhados, a montanha da morte teria uma base e uma altura de muitas centenas de metros”, escreve Luís Mir em Guerra civil.

E ele não tira suas conclusões do acaso. A primeira parte do livro é dedicada a analisar as raízes históricas dessa violência, iniciada com o genocídio dos índios, passando pela exploração escravagista, a segregação territorial e econômica da República e acabando no apartheid econômico, social e racial da atualidade. Para Mir, o responsável pela manutenção desse estado de coisas é sempre o mesmo: o Estado. “Ele sempre foi o maior promotor de violência e nunca funcionou como vetor pacificador e nunca funcionou como vetor pacificador” avalia o autor.

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