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Carta da editora | 127

Ciência, cinema e celebrações

É comum, a cada campanha, uma certa controvérsia sobre as pesquisas eleitorais e o desempenho dos institutos que as realizam. Dá para confiar nessas pesquisas? Seus resultados influenciam a mídia? Criam tendências no eleitorado? E o que os cientistas políticos e outros estudiosos atentos das chamadas humanidades têm a dizer sobre essas sondagens, com sólida base estatística, que entraram de vez no processo político brasileiro, desde a redemocratização nos anos 1980? Foi isso exatamente que o editor de humanidades, Carlos Haag, tratou de investigar, consultando estudos acadêmicos e ouvindo seus autores, para oferecer aos leitores de Pesquisa FAPESP uma visão densa e abrangente sobre o que são as pesquisas para o presente da política, como e por que elas funcionam, sem esquecer uma breve passada de olhos por seu histórico. Vale a pena conferir, deslizando pelo texto fluente, o que sustenta essa saltitante dança de números que a mídia nos apresenta a intervalos de tempo cada vez menores ao longo da campanha, até as vésperas da eleição.

Em um campo transitório das ciências humanas para as biológicas, quero destacar a reportagem reveladora do editor especial Marcos Pivetta sobre um megaestudo do potencial pesqueiro da costa brasileira, patrocinado pelo governo federal, e cujos resultados estão em uma publicação lançada por esses dias. A notícia não muito animadora que ele traz é que há pouco peixe no litoral nacional, dadas suas águas quentes e pobres em alimentos para esses animais. Mas, em contrapartida à escassez dos recursos, parte deles é valiosa e, dessa forma, a pesca nacional pode crescer em termos qualitativos.

Nessa mesma zona fronteiriça humanas/biológicas merece registro aqui o sensível relato do editor de ciência, Carlos Fioravanti, junto com Mariana Martinez Estens, jornalista do diário Frontera, de Tijuana, México, sobre a propagação em larga escala de vírus e bactérias na grande fronteira que separa o México dos Estados Unidos e a conseqüente explosão de doenças de todo tipo facilitada por condições de sobrevivência na região de uma atordoante dramaticidade, tenha ela caráter temporário ou permanente.

Em tecnologia, o editor Marcos de Oliveira detalha o começo das atividades de uma das mais expressivas parcerias já firmadas neste país entre instituições científicas e uma empresa – no caso, a Petrobras. Nada menos que 76 instituições em 17 estados brasileiros vão receber o total de R$1 bilhão, no período de três anos, para desenvolver projetos de pesquisa cujo foco é o aumento da produção brasileira de petróleo e gás e o desenvolvimento de um grande número de novas formas de energia.

Destacar dentro do trabalho coletivo uma pequena peça assinada exatamente por quem está fazendo a avaliação geral desse trabalho pode ser constrangedor. Mas no caso da entrevista que Fernando Birri me concedeu, vale a pena vencer o constrangimento por conta de suas palavras, de sua fantástica visão de futuro aos 80 anos, e do tamanho de sua obra na construção do cinema na América Latina, seja fazendo filmes, plantando escolas de cinema ou examinando teoricamente, com grande argúcia e originalidade, os caminhos dessa expressão cultural tão insistente e persistente em nosso continente.

E, finalmente, o registro que era o que mais queria fazer desde o começo dessa carta: Pesquisa FAPESP, concorrendo com muitos dos grandes veículos nacionais, conquistou o primeiro e o segundo lugares do Prêmio de Reportagem sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica, na categoria jornalismo impresso. As reportagens vencedoras foram de Alessandra Pereira e Carlos Fioravanti. Elas são completadas com outras notícias que podem sugerir que estamos entoando loas a nós mesmos. Mas não se trata disso. Trata-se de celebrar boas notícias e o reconhecimento de que temos cometido acertos num trabalho que esta equipe se empenha em fazer bem porque adora fazê-lo. Tim-tim!

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