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Colaboração

Unidos contra o câncer

Grupos de pesquisa sobre tumores articulam-se em rede nacional

EDUARDO CESAR SOBRE TRABALHO DE MARCIO MAGINIUma iniciativa voltada para articular os principais grupos de pesquisa do câncer no Brasil foi lançada oficialmente no início de março. A Rede Brasileira de Pesquisas sobre o Câncer nasce com a ambição de incentivar estudos básicos e aplicados, como o mapeamento de genes relacionados ao surgimento de tumores e a realização de testes clínicos de novos tratamentos. “Além das atividades de pesquisa básica, de bancada e relacionadas, por exemplo, ao genoma e ao proteoma dos tumores, a ideia da rede é investir em pesquisa aplicada voltada diretamente aos pacientes”, disse Marco Antonio Zago, presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A coordenadora do programa é a pesquisadora Anamaria Camargo, do Instituto Ludwig de Pesquisa sobre o Câncer (LICR, na sigla em inglês).

A iniciativa reúne 19 grupos ligados a várias instituições, como a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, a Fundação Oswaldo Cruz, o Instituto Butantan, o Instituto Nacional do Câncer, a Universidade de Brasília e as universidades federais de Mato Grosso, do Rio de Janeiro e de Uberlândia, além da empresa Recepta Biopharma. No final de 2008 a rede foi contemplada com R$ 5,38 milhões por meio de um edital conjunto do CNPq e do Ministério da Saúde, que priorizava três linhas de pesquisa: estudos de alterações moleculares do câncer de mama, testes preliminares de vacina terapêutica e estudos de epidemiologia clínica do câncer de mama, estômago e próstata. “Novos editais deverão ser lançados nos próximos anos, pois a rede terá fôlego longo”, disse Luiz Eugênio de Souza, diretor do Departamento de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde.

A princípio os estudos devem concentrar-se nos tumores mais prevalentes no Brasil. “Como não dá para começar tudo de uma vez, definimos como primeiro objeto de estudos da rede o câncer de mama”, explicou a coordenadora da rede, Anamaria Camargo. A previsão é que as informações geradas pelos pesquisadores permitam aumentar o leque de marcadores moleculares disponíveis para esse tipo de tumor, além de levar à identificação de novos alvos terapêuticos e à diminuição da mortalidade e morbidade associadas à doença. Para isso, os cientistas trabalharão com base no sequenciamento do genoma de uma linhagem tumoral do câncer de mama, que ocorreu no Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), no Rio de Janeiro. O material biológico utilizado foi cedido pelo LICR de Nova York. O Instituto Butantan testará, no âmbito da nova rede, uma vacina contra o câncer de ovário, um dos tumores mais frequentes e agressivos. O medicamento, desenvolvido nos Estados Unidos, será usado para evitar que o tumor reapareça após a cirurgia.

Segundo Andrew Simpson, diretor científico do LICR em Nova York, uma parte importante do trabalho da rede está vinculada a avanços em técnicas de diagnóstico. “As tecnologias de sequenciamento evoluíram muito nos últimos anos a ponto de, a partir do genoma de um tumor específico, podermos estimar como um paciente responderá a determinada terapia”, explicou. De acordo com Luiz Eugênio de Souza, a rede deverá integrar pesquisadores que atuam em abordagens epidemiológicas, uma vez que a população brasileira tem características bem específicas comparadas a outros países. “Com isso, seremos capazes de influenciar a formulação e implementação de novas políticas para o Sistema Único de Saúde, a partir de dados científicos que indiquem as características predominantes do câncer no país”, afirmou.

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