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Carta da editora | 185

Viagem transdisciplinar pelo Brasil

Em uma síntese objetiva, a reportagem de capa desta edição de Pesquisa FAPESP trata do registro, por um físico, de uma inesperada queda na intensidade do campo magnético terrestre nas regiões Nordeste e Sudeste do Brasil, enquanto ele se empenhava em conhecer sua variação no país nos últimos 500 anos. Ainda dentro do mesmo espírito objetivo, valeria acrescentar que o evento motivou o estabelecimento de um método de análise de materiais arqueológicos brasileiros que, por sua vez, confirmou ou mesmo definiu as prováveis datas de antigas construções em cidades brasileiras, algumas delas sem qualquer documentação histórica.

Mas dando-me a liberdade de adotar um tom mais entusiasmado e com foco ampliado para o contexto da narrativa, o que eu gostaria de dizer aos leitores é que nesta reportagem, elaborada pelo editor especial Carlos Fioravanti, física, geologia, arqueologia e arquitetura cruzam-se num enredo fascinante para contar uma história magnética do Brasil. Pelo texto do jornalista, quase podemos ver um físico, mais arquitetos, arqueólogos e geólogos, munidos de martelos e talhadeiras, às vezes empunhando uma furadeira resfriada a água, a tirar pequenas lascas de tijolos de igrejas e casas coloniais no velho centro de Salvador, Bahia, para enviá-las a centros de pesquisa em São Paulo e em Paris e, assim, nos falar com precisão, mais adiante, de magnetismo e da data de construção da Catedral Basílica no Terreiro de Jesus. Ou das reformas da casa do irreverente poeta seiscentista Gregório de Matos e Guerra, no conjunto do Pelourinho. Vale a pena constatar o desdobramento desse projeto exemplarmente transdisciplinar na matéria A história magnética do Brasil.

Destaque importante desta edição é a reportagem elaborada pelo editor de política científica e tecnológica, Fabrício Marques, a respeito dos Indicadores de ciência, tecnologia e inovação em São Paulo, com lançamento previsto pela FAPESP para este mês de julho. O volume resulta de um notável trabalho de investigação, levado a cabo por algumas dezenas de especialistas, sobre uma série de tópicos indispensáveis para traçar um retrato fiel e multifacetado da área de CT&I neste estado.  Nas mais de 800 páginas do livro, chama a atenção, por exemplo, a força que o setor privado conquistou nos últimos anos no campo de pesquisa: está hoje em empresas a maioria dos pesquisadores paulistas, mais precisamente 53% segundo os números de 2008. Para compreender a dinâmica desse processo e de tantos outros que estão na base do aumento da contribuição paulista para a produção mundial de ciência e tecnologia o leitor deve buscar a matéria Avanços e desafios.

De Fabrício Marques recomendo uma segunda reportagem, posicionada na seção de tecnologia da revista na matéria A multiplicação das vacinas. Ela trata da fábrica de vacinas contra gripe do Instituto Butantan, já em funcionamento, e que deve garantir ao Brasil autossuficiência na prevenção contra o vírus influenza para pessoas idosas já em 2012.

Boa leitura!

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