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Boas práticas

O bolso transparente dos cientistas

DANIEL BUENOCerca de 38 mil pesquisadores norte-americanos da área biomédica começaram a seguir regras mais duras envolvendo declarações de interesses financeiros. Os novos parâmetros foram aprovados pelo governo dos EUA para pesquisadores patrocinados por instituições públicas como os Institutos Nacionais de Saúde (NIH, na sigla em inglês), a maior agência financiadora de pesquisa médica do mundo. Eles acabam com ambiguidades presentes nas regras anteriores, em vigor desde 1995, e buscam assegurar que interesses dos pesquisadores não influenciem o desenho, a condução e a divulgação de seus trabalhos.

A partir de agora, cada pesquisador precisa informar suas instituições sobre qualquer “interesse financeiro significativo” relacionado a si ou a membros 
de sua família, capaz de ter algum impacto em sua atividade profissional, o que envolve ensino, pesquisa ou o trabalho em comitês de ética. A regra anterior era menos abrangente e exigia apenas que o pesquisador declarasse interesses relacionados especificamente ao projeto de pesquisa em avaliação. A mudança busca evitar situações como a do professor de psiquiatria Charles Nemeroff, da Emory University, em Atlanta. Ele recebeu mais de US$ 800 mil da multinacional farmacêutica GlaxoSmithKline entre 2000 e 2006 para fazer mais de 250 palestras para psiquiatras, mas não declarou esses ganhos à universidade. Quando descoberto e interpelado pela universidade, argumentou que as regras eram ambíguas e que seu trabalho remunerado não era uma informação relevante para a instituição, uma vez que envolvia apenas sua 
experiência como clínico.

Pelas novas regras, não há nenhuma dúvida de que esses vínculos financeiros precisam ser declarados. A mudança dá às universidades a responsabilidade de avaliar se ganhos financeiros privados de seus pesquisadores podem influenciar projetos de pesquisa financiados pelo governo. Há outras mudanças: 
o valor de um ganho considerado significativo (e que deve, portanto, ser reportado) diminuiu de US$ 10 mil para US$ 5 mil. De acordo com editorial da revista Nature, em pelo menos um aspecto o governo norte-americano recuou. Segundo a proposta original apresentada pelos NIH, cada instituição deveria publicar as informações sobre potenciais conflitos de interesse de seus pesquisadores na internet e atualizá-las anualmente. Na versão aprovada, a declaração na internet tornou-se opcional e as instituições, caso sejam interpeladas, podem se defender por escrito.

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