Imprimir PDF Republicar

Colaboração

As formigas e as bromélias

Entrevista: Ana Zangirolame Gonçalves
00:00 / 07:45

Algumas espécies de formiga contribuem para a nutrição das plantas que as abrigam. É assim com a bromélia Quesnelia arvensis, de folhas verdes com bordas serrilhadas e flores púrpuras, comum na Mata Atlântica do Sudeste. Por meio de seus excrementos e de restos de alimentos, as formigas Odontomachus hastatus, que fazem seus ninhos em meio às raízes dessa bromélia, e as Gnamptogenys moelleri, que se abrigam em suas folhas, fornecem para a planta boa parte do nitrogênio de que necessita para produzir proteínas e crescer, constataram pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Em um experimento em laboratório, a bióloga Ana Zangirolame Gonçalves quantificou a colaboração que três espécies de formiga dão para a dieta da bromélia. Ela simulou no interior de uma estufa as condições de temperatura, umidade e solo em que a Quesnelia é encontrada nas restingas da Ilha do Cardoso, no litoral sul de São Paulo. Em seguida, colocou exemplares da bromélia para conviver por dois meses com colônias de três espécies de formigas – Odontomachus hastatus, Gnamptogenys moelleri e Camponotus crassus. As duas primeiras são predadoras e em geral consomem pequenos invertebrados. Nos testes, elas foram alimentadas com larvas de besouro tratadas com ração rica em nitrogênio 15, variedade mais pesada e rara desse elemento químico. As formigas Camponotus crassus consomem néctar e líquidos adocicados excretados por insetos que se alimentam de seiva. Com 1,3 centímetro (cm) de comprimento, a espécie Odontomachus hastatus foi a que mais forneceu nitrogênio para a bromélia: em média, 19% do nitrogênio total consumido pela planta. Bem menores, com apenas 0,5 cm, as Gnamptogenys moelleri e as Camponotus crassus contribuíram, respectivamente, com 16% e 11% (PLoS One, 22 de março). “Os resultados reforçam a ideia de que as formigas podem redistribuir nutrientes entre diferentes áreas da floresta”, escrevem os pesquisadores. “Esse papel”, afirma Ana, “é ainda mais importante em ambientes pobres em nutrientes”.

Republicar