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Evolução

Por que as cobras não têm patas

Jiboia: ausência de trecho com 17 pares de bases fez cobras perderem as patas

Gnangarra/wikicommonsJiboia: ausência de trecho com 17 pares de bases fez cobras perderem as patasGnangarra/wikicommons

TTCTGAGGTAACTTCCT. A ausência dessa sequência de 17 pares de bases, as unidades químicas que compõem o DNA, em um trecho do genoma das cobras, fez esses répteis perderem progressivamente suas patas (Cell, 20 de outubro). Essa é a conclusão de um estudo coordenado por pesquisadores do Laboratório Nacional Lawrence Berkeley, na Califórnia, com participação do biólogo molecular brasileiro Uirá Souto Melo. A sequência faz parte de uma região regulatória que controla o funcionamento do gene Sonic hedgehog (Shh), responsável pela produção de uma proteína  importante para o crescimento dos membros. Denominada ZRS, essa região é bem conservada no genoma dos vertebrados, mas apresenta algumas deleções no DNA das serpentes. No caso das cobras modernas, que não têm patas, o trecho de 17 pares de base está ausente. Por meio da técnica CRISPR-Cas9, ferramenta da biologia molecular que permite editar segmentos específicos de um gene, os pesquisadores inseriram e apagaram a tal sequência em camundongos transgênicos. Quando introduziam nos roedores a sequência proveniente de vertebrados com membros, como o ser humano, o cavalo e a galinha, os roedores formavam patas. Se a origem do trecho inserido eram duas das espécies de cobras estudadas, os camundongos não produziam seus membros. “Vimos que a sequência é suficiente para controlar a formação das patas”, explica Melo, que fez parte do seu doutorado no ano passado na instituição norte-americana e hoje está no Centro de Pesquisa sobre o Genoma Humano e Células-tronco (CEGH-CEL), da Universidade de São Paulo (USP).

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