Imprimir Republicar

Boas práticas

Sínteses contaminadas

Uma dupla de pesquisadores chineses avaliou a qualidade de revisões sistemáticas de literatura, estudos que sintetizam o conhecimento em um determinado tema ao analisar resultados de múltiplos trabalhos científicos e ensaios clínicos sobre aquele assunto. De acordo com o levantamento, publicado na revista JAMA Network Open, 299 (0,15%) de 200 mil revisões na área de ciências da vida publicadas entre 2013 e 2024 incorporaram conclusões de artigos fraudulentos produzidos por fábricas de papers, serviços ilegais que comercializam estudos sob encomenda, frequentemente com dados falsos.

Entre as 299 revisões contaminadas, 256 incluíram um estudo que sofreu retratação, ou seja, que foi invalidado, por vínculo com fábricas de papers. Nas outras 43 revisões, dois ou mais trabalhos manipulados constavam em suas referências – em uma delas, sobre câncer de tireoide, publicada na revista Cancers, 13 artigos fraudulentos foram considerados. A área de oncologia foi a mais afetada, com 48 revisões comprometidas, seguida por medicina geral e clínica médica (26) e biologia molecular e bioquímica (23).

De acordo com o estudo, embora o número de revisões comprometidas seja baixo, ele tem aumentado ao longo do tempo. Em 2015, foi registrada apenas uma revisão sistemática com artigo produzido por fábricas de papers em seu conteúdo. Já em 2020 foram 24 e em 2023, atingiu-se um pico de 105 sínteses contaminadas. “As revisões sistemáticas desempenham um papel crucial nas ciências da vida, sintetizando evidências de alta qualidade para informar a prática clínica e orientar pesquisas futuras. Consequentemente, a integridade e a confiabilidade da literatura analisada em revisões sistemáticas são essenciais”, escreveram os autores do levantamento, o especialista em comunicações e mídia Gengyan Tang, que atualmente faz doutorado na Escola de Educação da Universidade de Alberta, no Canadá, e o cirurgião Hao Cai, pesquisador da Universidade Médica de Chongqing, na China.

Republicar