À medida que se apurava o olhar sobre o que resta de verde em São Paulo, as antigas categorias de vegetação tornaram-se genéricas demais para dar conta de nuances cada vez mais claras. As matas dos arredores de Teodoro Sampaio, nas planícies do extremo oeste do Estado, com um período chuvoso e outro seco bem definidos (as árvores perdem as folhas durante a seca), por exemplo, eram classificadas há dez anos como mata – o mesmo termo era empregado para designar as florestas de Campos do Jordão, a leste do Estado, com árvores como as araucárias que crescem a 1.500 metros de altitude sob chuva contínua ao longo do ano e jamais perdem as folhas por causa da seca.
Para lidar com as diferenças de comportamento, solo, clima e relevo, os pesquisadores atualizaram as categorias de vegetação do Estado de São Paulo, adotando a terminologia do projeto Radam-Brasil, gigantesco mapeamento do território nacional feito nos anos 70 por meio de aviões, helicópteros e equipes terrestres. A região Sudeste havia ficado de fora do padrão proposto, já que a prioridade era conhecer e mapear o interior da Amazônia (Radam quer dizer Radar da Amazônia) e do Nordeste.
Convertida à terminologia do Radam, as matas e as capoeiras – trechos de mata natural em regeneração – desdobraram-se em três tipos de vegetação: Floresta Ombrófila Densa, próxima ao litoral; Floresta Ombrófila Mista, em áreas altas como Campos de Jordão; e Floresta Estacional Semidecidual, com períodos chuvosos e secos bem definidos, como em Teodoro Sampaio (ombrófila quer dizer “que gosta de chuva”, em grego). O termo Cerrado, de uso regional, foi substituído por Savana, adotado internacionalmente para designar a vegetação formada por árvores tortuosas que crescem sobre solos pobres e ácidos. “Cerrado, em inglês, corresponderia a uma vegetação mais fechada, como o cerradão”, observa Baitello. “Temos agora um padrão mais universal, quase o nome científico de cada tipo de vegetação.”
Agora são cinco as categorias básicas da vegetação paulista:
Floresta Ombrófila Densa – São os trechos de Mata Atlântica encontrados ao longo do litoral, em regiões de temperatura elevada (médias de 25° Celsius) e chuvas intensas e bem distribuídas ao longo do ano, praticamente sem estação seca. Inclui, como ecossistema associado, a restinga, que ocorre ao longo de praias e planícies costeiras.
Floresta Ombrófila Mista – Situada em regiões com altitudes de 1.200 a 1.800 metros, chuvas bem distribuídas ao longo do ano e período seco curto (inferior a 60 dias). Também chamada de mata de araucária ou pinheiral.
Floresta Estacional Semidecidual – Caracteriza-se por duas estações climáticas, uma chuvosa e outra seca, que condicionam o comportamento das plantas: entre as árvores, de 20 a 50% perdem as folhas durante o período seco (dois a três meses). Abrange os trechos de Mata Atlântica encontrados no interior do Estado de São Paulo.
Savana (Cerrado) – Vegetação adaptada a regiões normalmente planas, com climas secos (um a quatro meses sem chuva) e solos pobres e ácidos. Apresenta-se sob quatro formas distintas: savana típica (cerrado stricto sensu), com arbustos e árvores de até 7 metros de altura, caules e galhos tortuosos recobertos por casca espessa; savana florestada (cerradão), com árvores de até 12 metros de altura, mais fechada e densa que a savana típica; savana arborizada (campo cerrado), com predomínio de vegetação herbácea, principalmente gramíneas, e pequenas árvores e arbustos bastante espaçados entre si; e savana gramíneo-lenhosa (campo), constituída por uma vegetação herbácea, sem árvores.
Mangue – Vegetação encontrada em áreas em que as águas do mar e de rios se misturam, adaptada à salinidade elevada e ao solo lodoso.
Os trechos em que esses tipos básicos de vegetação se misturam aparecem no mapa como contatos, também chamados de áreas de tensão ecológica. Há nove contatos – entre Savana e Floresta Ombrófila Mista ou entre Savana e Floresta Estacional Semidecidual, por exemplo -, por sua vez divididos em dois grupos.
Quando as espécies realmente se entrelaçam, formam-se os chamados ecótonos, nos quais as características originais de cada tipo de vegetação se perdem. Há também os chamados encraves, nos quais um tipo de vegetação – a Savana, digamos – forma ilhas cercadas por outro tipo – uma Floresta Estacional Semidecidual, por exemplo. O que fazer com os nomes antigos como Mata Atlântica ou Cerrado? Ainda podem ser usados, claro, embora agora tenham se tornado claramente genéricos.
Os Projetos
1. Unidades Fisionômico-Ecológicas Associadas aos Remanescentes da Cobertura Vegetal Natural do Estado de São Paulo (nº 99/12329-8); Modalidade Projeto do Biota-FAPESP; Coordenador João Batista Baitello – Instituto Florestal; Investimento R$ 127.875,00
2. Caracterização e Quantificação da Matéria-Prima Florestal (Pinus e Eucalipto) no Estado de São Paulo (nº 00/02043-9); Modalidade Políticas Públicas; Coordenador Francisco José do Nascimento Kronka – Instituto Florestal; Investimento R$ 218.476,00