Os seres humanos são os primatas com o maior cérebro e número de neurônios, apesar de nossos corpos não serem tão grandes quanto aos dos gorilas, por exemplo. Por que a evolução dos grandes símios também não foi na direção de aumentar seus cérebros? A resposta pode estar em uma mudança de dieta, argumentam as neurocientistas Suzana Herculano-Houzel e Karina Fonseca-Azevedo, ambas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Sabendo que o custo energético de um cérebro é diretamente proporcional ao seu número de neurônios, as pesquisadoras calcularam o número máximo de neurônios que 17 espécies de primatas são capazes de manter com a energia fornecida por uma dieta de alimentos crus (PNAS, 23 de outubro). Descobriram que o número de horas disponíveis para se alimentar e o baixo teor calórico da comida crua impõem limites severos ao desenvolvimento do corpo e do cérebro dos animais. É como se, ao longo da evolução, as espécies precisassem escolher entre ganhar massa corporal e aumentar o número de neurônios. Uma espécie como o Homo sapiens precisaria gastar mais de nove horas diárias se alimentando de comida crua para desenvolver e manter o cérebro funcionando. Esse obstáculo teria sido superado quando nosso ancestral Homo erectus descobriu o fogo. Alimentos cozidos são mais fáceis de digerir, fornecendo mais calorias que os crus. Com mais energia e tempo livre disponíveis para atividades sociais, a evolução teria favorecido o aumento do número de neurônios.
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