Arquivo PESSOALNa adolescência, na década de 1970, o desembargador Elton Leme costumava se embrenhar nas matas da fazenda do pai, no distrito de Gaviões, no Rio de Janeiro, à procura de bromélias e orquídeas. “Queria construir um viveiro para criar micos-leões-dourados”, conta. Logo abandonou a ideia, mas não deixou de cultivar as plantas que encontrava. Com o avô, transformou um antigo galinheiro em estufa, que em pouco tempo contava com uma pequena coleção de bromélias. À medida que floresciam, ele as fotografava e desenhava, sem chegar, contudo, à classificação de cada uma.
Aos 19 anos, Leme começou a levar exemplares para o taxonomista Edmundo Pereira, à época pesquisador do Herbarium Brandeanum, no Rio de Janeiro, que o ajudou a identificá-las. Não demorou para que uma de suas bromélias fosse considerada nova para a ciência — a planta foi batizada de Vriesea eltoniana em sua homenagem. Quando se deu conta de que outra das plantas do garoto também era nova, Pereira perguntou se ele gostaria de ser homenageado ou de participar da elaboração do artigo científico que a apresentaria ao mundo. “Optei por participar da publicação da nova espécie.”
Hoje com 55 anos, o botânico autodidata, que trabalha no Tribunal de Justiça do Rio, já classificou mais de 350 espécies de bromélias e publica tanto quanto um botânico profissional. “Ao longo dos anos, reuni conhecimentos básicos em botânica, morfologia e taxonomia, entre outras áreas”, diz. Com isso, ganhou autonomia suficiente para continuar pesquisando e publicando. Em razão disso, costuma ser convidado para dar palestras em congressos internacionais, nos quais estreitou laços de cooperação com botânicos e biólogos de outros países.
O estreitamento dessas relações científicas o fez produzir 241 artigos, em colaboração ou sozinho, além de livros como autor ou coautor, sempre sobre botânica. Hoje, Leme mantém várias linhas de pesquisa cooperativa com pesquisadores de universidades da Alemanha, Áustria, Estados Unidos, entre outras, para quem, ele diz, “o conhecimento vale mais que os títulos”, ao contrário do que afirma ocorrer no Brasil. Aqui suas colaborações são mais acanhadas, limitando-se aos pesquisadores do Jardim Botânico e da Universidade Federal do Vale do São Francisco, em Pernambuco.
Enquanto desenvolvia estudos em botânica, Elton iniciou também a graduação em Direito na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. “Desenvolvi um gosto pelo direito com a mesma intensidade que apreciava a botânica e me especializei na área ambiental”, conta. O direito e a botânica o completam e, às vezes, misturam-se. Leme com frequência é convidado por revistas científicas para revisar artigos de botânica. “Talvez o meu treinamento como juiz me faça atuar com maior imparcialidade e, por isso, continuo a ser demandado como revisor pelos editores estrangeiros.”
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