Em anos de El Niño intenso, as plataformas de gelo que flutuam no oceano na porção ocidental da Antártida perdem massa mais rapidamente, mesmo que neve mais do que o normal. A conclusão é de um estudo coordenado pelo geofísico brasileiro Fernando Paolo, hoje em estágio de pós-doutorado no Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa, a agência espacial norte-americana. Durante o doutorado no Instituto de Oceanografia Scripps da Universidade da Califórnia em San Diego, Paolo e outros pesquisadores analisaram medições na altura das plataformas de gelo da costa ocidental da Antártida feitas por satélites nas duas últimas décadas. Eles verificaram que nos períodos intensos de El Niño, caracterizado pelo aquecimento anormal das águas superficiais do Pacífico, há um aumento na deposição de neve sobre as plataformas de gelo, porque uma alteração no padrão dos ventos transporta mais umidade do oceano para o continente gelado. Ao mesmo tempo, esse padrão de ventos promove a ressurgência de águas profundas mais quentes, que penetram sob as plataformas e aceleram o derretimento do gelo submerso. De 1994 a 2017, a altura média das plataformas na região diminuiu cerca de 20 centímetros (cm) por ano, sobretudo pelo derretimento das camadas submersas, processo intensificado durante o El Niño (Nature Geoscience, 8 de janeiro). “Nos anos de El Niño intenso, dois processos opostos ocorrem”, explica Paolo. “O derretimento pelo oceano remove mais gelo do que a deposição de neve adiciona.” No balanço total, a plataforma perde massa. A diminuição das plataformas da Antártida não afeta diretamente o nível do mar, pois ali o gelo flutua na água. Mas o derretimento regula a velocidade com a qual as geleiras continentais despejam gelo no oceano. “É importante entender como as plataformas se comportam durante esses fenômenos climáticos, já que períodos de El Niño intensos deverão se tornar mais frequentes com o aumento da temperatura média do planeta”, explica Paolo.
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