JAIME PRADESAs tecnologias de informação (TI) e de comunicação (TC) são ferramentas estratégicas para o desenvolvimento econômico e social de um país. No Brasil, elas estão disponíveis para 36 milhões de pessoas com mais de 10 anos, de acordo com último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que tem como base o ano de 2005. Esse número, em termos absolutos, coloca o país no primeiro lugar no ranking de acesso a web na América Latina e em quinto, em relação ao resto do mundo. Mas o total de usuários de internet representa apenas 21% da população e, avaliado por esse quesito, o país despenca para o quarto lugar na América Latina e para o 62º entre as demais nações do mundo. Esse quadro discrepante, que reitera diferenças socioeconômicas abissais, não é muito diferente na telefonia móvel: apesar de 56 milhões de brasileiros já se comunicarem por meio de aparelhos celulares, eles não ultrapassam o porcentual de 36% da população.
A universalização dessas tecnologias representa um enorme desafio cuja solução está não apenas nas políticas de distribuição de renda, educação e emprego, mas também no desenvolvimento de pesquisas que, ao mesmo tempo que expandam as aplicações de TI e TC, ampliem os seus benefícios sociais. Esse é o principal objetivo do convênio firmado entra a FAPESP e a Microsoft Research, no último dia 10 de março. “Vamos identificar projetos de pesquisa em tecnologias da informação e comunicação que contribuam para fazer avançar o conhecimento fundamental e que, ao mesmo tempo, possam apontar para aplicações de interesse econômico e social”, explica Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fundação. “O Instituto Microsoft Research/FAPESP é único no Brasil e está centrado no objetivo de fomentar o desenvolvimento tecnológico em TI e em áreas estratégicas para o desenvolvimento socioeconômico”, afirma Henrique Malvar, vice-presidente da Microsoft Research.
O convênio constitui o Instituto Virtual Microsoft Research /FAPESP de Pesquisa em Tecnologia da Informação, com recursos de US$ 400 mil para fomentar pesquisas básicas em TI e TC voltadas para as áreas das ciências da saúde, psicologia, linguística, antropologia, sociologia, geografia e design por um prazo de 36 meses. O primeiro edital para a seleção de projetos – num total de US$ 250 mil – já está disponível no site da FAPESP.
As propostas devem ser submetidas por pesquisadores de universidades ou institutos de pesquisa, públicos e privados, do estado de São Paulo. Devem, ao mesmo tempo, ser fundamentais para o avanço do conhecimento e relevantes para aplicações imediatas. Terão como foco pesquisas relacionadas à interface homem-máquina voltadas para públicos heterogêneos; governo eletrônico; sistemas de educação continuada; plataformas de e-learning; constituição de redes comunitárias em áreas pouco atendidas; design e desenvolvimento de novos hardwares e infra-estrutura de comunicação; modelagem de conteúdo orientada para dinâmicas sociais, entre outras.
Soluções criativas
A expectativa da FAPESP e da Microsoft é de que os projetos ofereçam soluções criativas, desenvolvam novos componentes tecnológicos, garantam conectividade e baixo custo, facilitem a navegação de novos usuários de baixa escolaridade e ainda sugiram soluções de rede wireless para ambientes sem infra-estrutura de rede.
Na área de infra-estrutura e aplicações de serviços móveis os projetos de pesquisas deverão, por exemplo, contemplar o uso de celulares como plataforma para serviços de saúde, conectando médicos e especialistas a comunidades com dificuldades de acesso a atendimento de qualidade. Nesta categoria de pesquisa, aliás, as propostas para a implementação de rede wireless serão particularmente relevantes.
JAIME PRADESAs propostas devem gerar novos conhecimentos a partir da definição de objetivos específicos, mensuráveis e de forte impacto econômico. Todos os projetos devem ser passíveis de disseminação e de replicação.
As propostas serão analisadas pelos assessores ad hoc, por coordenadores de área e coordenadores adjuntos da FAPESP, seguindo os mesmos critérios de seleção utilizados nos auxílios regulares a pesquisa da Fundação. Também serão analisadas por um comitê diretor de análise constituído no âmbito do convênio FAPESP/Microsoft Research.
“Nossa colaboração com a FAPESP reflete o compromisso da Microsoft de fomentar atividades em parceria com a comunidade acadêmica para o desenvolvimento de tecnologias inovadoras avançadas”, explica Malvar. O Instituto Microsoft Research/FAPESP integrará um conjunto de oito centros semelhantes patrocinados pela empresa em parceria com instituições acadêmicas em várias partes do mundo, onde se desenvolvem pesquisas nas áreas de computação científica, robótica em educação, computação com interface de caneta – como o TabletPC – e novas interfaces de visualização.
Vínculos de longo prazo
A Microsoft Research, sublinha Malvar, está interessada na criação de vínculos de colaboração de longo prazo com pesquisadores brasileiros e de toda a América Latina. “O instituto formado em parceria com a FAPESP é um exemplo de compromisso”, afirma. A expectativa da empresa, ele continua, é expandir conhecimento, particularmente nas áreas de especialização dos pesquisadores do estado de São Paulo. “Esses projetos com certeza trarão muitos resultados positivos, tais como publicação de artigos científicos, desenvolvimento de propriedade intelectual, incubação de pequenas empresas e novas oportunidades para que estudantes possam participar de projetos de pesquisa.”
A empresa, segundo Malvar, ainda não tem planos de criar no país um centro de pesquisa Microsoft semelhante ao que mantém em Redmond e no Silicon Valley, nos Estados Unidos; Cambridge, no Reino Unido; Bangalore, na Índia; e Pequim, na China. “O Instituto Microsoft Research/FAPESP visa a colaboração com pesquisadores em instituições acadêmicas de ponta, em áreas específicas. Já nos centros de pesquisa da Microsoft Research temos mais de 700 pesquisadores trabalhando em mais de 50 áreas diferentes relacionadas à ciência e engenharia de computação, tais como banco de dados, multimídia, aprendizado de máquina, busca e recuperação de informações, processamento de voz, entre outras”, esclarece Malvar.
Na visão de Brito Cruz, a proposta de criação do instituto tem um objetivo mediato: “Demonstrar internacionalmente que São Paulo tem uma comunidade acadêmica competitiva nessas áreas de pesquisa e é um importante pólo de pesquisa e desenvolvimento”, sublinha o diretor científico da FAPESP.
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