
A suspeita de Dansinger era de que o responsável pelo plágio fosse alguém envolvido no processo de revisão, a avaliação feita por um ou mais pesquisadores sobre a qualidade e a originalidade do conteúdo de artigos submetidos. O médico estava certo. Os editores da publicação norte-americana constaram que, de fato, um dos autores do artigo do Excli Journal avaliara o artigo rejeitado. O revisor foi procurado e admitiu a má conduta. O paper plagiado foi alvo de retratação.
Na crônica dos casos de plágio em publicações científicas, o episódio chamou a atenção pela atitude franca do Annals of Internal Medicine. Num editorial publicado em dezembro, a editora Christine Laine expôs o caso publicamente, desculpou-se com Dansinger e reiterou os princípios que regem o processo de revisão de artigos de publicações sérias, baseados na confidencialidade e no respeito à propriedade intelectual. “Foi perturbador para mim e para meus colegas que uma pessoa selecionada para revisar um manuscrito confiado a nós tenha cometido um roubo intelectual hediondo”, escreveu. A transparência só não foi completa porque Christine absteve-se de nomear o autor do plágio, deixando a suspeita recair sobre os oito médicos italianos que assinaram o paper retratado, vinculados a um centro e a um hospital da cidade de Potenza. “Os coautores também são culpados. Eles permitiram que seus nomes fossem usados, aparentemente sem contribuir com nada de valor.”
A revista abriu espaço para a publicação de um texto assinado por Michael Dansinger, intitulado “Caro plagiador: uma carta para um revisor que roubou meu manuscrito e o publicou como se fosse dele”. “É difícil entender por que você se arriscou tanto. Sem dúvida, você trabalhou duro para se tornar médico e cientista. Sei que já publicou muitos artigos. Por isso, simplesmente não faz sentido”, escreveu Dansinger. Especializado em diabetes e em fatores de risco para doenças cardiovasculares, e conhecido como divulgador científico em jornais e TVs dos Estados Unidos, Dansinger relatou na carta que dedicara cinco anos à pesquisa plagiada. “Além disso, o trabalho foi financiado pelo governo dos Estados Unidos e a instituição onde trabalho. Foram pelo menos 4 mil horas de trabalho. Quando publicou nosso estudo como seu, você falsamente reivindicou crédito por esse trabalho e pela experiência adquirida nele”, escreveu.
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