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Resiliência na crise

Apesar da conjuntura econômica adversa, FAPESP manteve ritmo de investimentos, mostra Relatório de atividades 2016

A FAPESP investiu em 2016 um total de R$ 1.137.355.628 em 24.685 projetos de pesquisa. O valor foi um pouco inferior ao desembolso de 2015, de R$ 1.188.693.702 para 26.445 projetos então em andamento. Apesar da conjuntura adversa, fruto da diminuição das receitas tributárias estaduais resultante da crise econômica do país, foram contratados no ano 10.480 novos projetos – 4% mais do que em 2015 –, sendo 5.491 bolsas no Brasil, 1.162 bolsas no exterior e 3.827 auxílios à pesquisa. “A Fundação foi capaz de manter seus compromissos e seu ritmo de atuação no financiamento da pesquisa, apesar dos problemas econômicos que o Brasil enfrentou em 2016”, afirma o presidente da FAPESP, o físico José Goldemberg.

O desempenho da Fundação no ano passado compõe o Relatório de atividades 2016, lançado em agosto e disponível em fapesp.br/publicacoes, onde também estão sínteses anuais sobre as atividades da FAPESP desde 1962, ano em que começou a operar. O documento de 2016 é estampado com obras dos artistas de rua Gustavo e Otávio Pandolfo, conhecidos como OSGEMEOS – algumas delas também ilustram esta reportagem.

O crescimento da cooperação com o setor empresarial é um dos destaques positivos do relatório. O programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (Pipe) teve o melhor ano desde a sua criação, em 1997: foram 228 novas propostas contratadas, ou mais de quatro por semana – quase uma por dia útil –, e investimentos de R$ 55,5 milhões (ver Pesquisa FAPESP nº 257). Em 2015, 159 projetos foram contratados e o desembolso total do programa foi de R$ 29,9 milhões. O Pipe foi a primeira iniciativa de uma agência brasileira a oferecer recursos não reembolsáveis para pequenas e médias empresas desenvolverem inovações em fases iniciais. “É um programa que tem dado uma enorme contribuição ao desenvolvimento científico, tecnológico e econômico do estado de São Paulo, estimulando a criação de empresas que prosperam e geram empregos e riqueza”, avalia o físico Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP.

A criação de centros de pesquisa em engenharia em cooperação com empresas também recebeu impulso em 2016 com a implantação do Centro de Pesquisa Aplicada em Bem-Estar e Comportamento Humano, parceria da FAPESP com a Natura e as universidades de São Paulo (USP), Federal de São Paulo (Unifesp) e Mackenzie. Sediado na USP, o centro se dedica a estudos multidisciplinares sobre comportamento humano, em um investimento conjunto de R$ 40 milhões em 10 anos. A proposta é reunir conhecimento, metodologias e tecnologias em áreas como psicologia experimental e neurociência que criem indicadores de bem-estar da população brasileira e ajudem a criar produtos inovadores. Andrea Álvares, vice-presidente de marketing e inovação da Natura, afirmou que o modelo está na vanguarda da inovação aberta. “Quanto maior a diversidade dos pesquisadores envolvidos, mais ricos serão os resultados”, disse ela no evento de lançamento do centro.

A parceria com a Natura se somou a outros quatro centros criados em anos anteriores, dois deles com a farmacêutica GSK, um com a montadora Peugeot-Citroën e outro com a empresa de petróleo e gás BG. Nesse modelo, cada R$ 1 investido pela FAPESP terá mobilizado mais R$ 1 da empresa e R$ 2 da universidade ou instituto de pesquisa que sedia o centro. Juntos, esses cinco centros receberão R$ 259 milhões em investimentos.

Outro destaque do relatório foi o crescimento do apoio à pesquisa interdisciplinar, campo responsável por 11,5% do desembolso da Fundação em 2016, atrás das Ciências da Vida (40,5%) e das Ciências Exatas e da Terra e Engenharias (37%), e à frente das Ciências Humanas e Sociais (11%). O desempenho é superior ao de 2015, quando 10,4% do desembolso da Fundação foi para projetos interdisciplinares, e muito à frente do registrado em 2006 (7,78%) ou em 2013 (3,08%).

A FAPESP também manteve investimentos consistentes em modalidades de fomento que financiam projetos de pesquisa competitivos mundialmente. Os projetos temáticos, que envolvem objetivos ousados capazes de justificar um financiamento com duração de até cinco anos e com frequência reúnem pesquisadores de várias instituições, receberam R$ 256.266.138 em 2016, ante R$ 250.586.553 em 2015. O montante inclui recursos desembolsados nos projetos e em auxílios e bolsas no país e no exterior vinculados a eles. A quantidade de projetos contratados foi a maior dos últimos seis anos – chegou a 88, seis a mais do que em 2015 (ver quadro). Havia 477 temáticos em andamento em 2016. Da mesma forma, o programa Jovens Pesquisadores em Centros Emergentes manteve seu fôlego: recebeu R$ 68,2 milhões em 2016, contando também com auxílios e bolsas vinculados, para 313 projetos em andamento, ante R$ 67,3 milhões de 2015. Cinquenta e oito desses projetos foram contratados no ano passado. O programa financia, por até quatro anos, a formação de núcleos liderados por jovens pesquisadores com nível de doutorado e alto potencial, preferencialmente em instituições ainda com pouca tradição no tema do projeto.

Conforme está previsto na Constituição estadual de 1989, a FAPESP recebe 1% da receita tributária paulista para investir em pesquisa científica e tecnológica. O repasse feito pelo Tesouro Estadual em 2016 atingiu R$ 1.057.714.553 e foi 1,2% superior, em valores nominais, à transferência feita no ano anterior. Já em valores corrigidos pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), houve queda de 5% em relação a 2015. Esse repasse foi responsável por 78,7% da receita da Fundação. O desembolso de 2016 foi complementado com R$ 215.154.402, provenientes de acordos e convênios com outras agências, instituições e empresas, e com R$ 71.328.947 oriundos de receitas da própria Fundação, que mantém um patrimônio rentável para complementar os recursos recebidos do Tesouro. Essas receitas complementares foram 6% menores em 2016, em termos nominais, que as de 2015.

É possível enxergar o alcance do investimento segundo diferentes perspectivas. Uma delas é a divisão dos recursos pelos programas da FAPESP: 39,5% do desembolso se destinou a bolsas no Brasil e no exterior, 34,1% a auxílios regulares à pesquisa, 14,3% a programas especiais, como os que apoiam Jovens Pesquisadores e pesquisas em eScience, e 12,1% a programas de inovação tecnológica.

No caso dos auxílios regulares, os recursos foram 9% menores do que em 2015 e o volume de projetos contratados, 3% inferior. A queda foi mais notada em modalidades como a participação ou organização de reuniões científicas, enquanto os auxílios regulares – projetos financiados por até dois anos – aumentaram 17% e os projetos temáticos, 9%.

O desembolso com bolsas foi de R$ 448,9 milhões, 6% menor em valores nominais que o de 2015. Mesmo assim, houve aumento de 4% no número de novas bolsas contratadas e as vigentes tiveram reajustes de 11%. O principal destaque entre as bolsas no país foi em iniciação científica: foram contratadas 2.287 bolsas, 12% mais do que as 2.036 no ano anterior. O número de bolsas de mestrado, doutorado e doutorado direto cresceu, respectivamente, 0,4%, 8% e 21%. No pós-doutorado, houve redução de 684 bolsas em 2015 para 634 em 2016. A contratação de bolsas no exterior caiu 7%: foram 1.162 no ano passado, ante 1.244 em 2015. A redução se concentrou nas bolsas para estágios no exterior, com até um ano de duração, dependendo da modalidade. Já a contratação de bolsas de pesquisa no exterior subiu de 254 em 2015 para 258 em 2016.

O número de pesquisadores do exterior que obtiveram bolsas de pós-doutorado no Brasil financiadas pela FAPESP caiu de 123 em 2015 para 93 em 2016. Mas a proporção de bolsas concedidas a pesquisadores que vieram de fora ficou estável: elas representaram 19% do total de bolsas de pós-doutorado no país, pouco abaixo dos 21% de 2015, mas acima do nível dos cinco anos anteriores, que oscilou de 13% a 18%. Os bolsistas, em geral estrangeiros, estavam vinculados às áreas de ciências exatas e da Terra (36%), engenharias (26%), ciências humanas (26%) e ciências sociais aplicadas (25%).

Outra forma de analisar o investimento da Fundação distingue os objetivos do apoio à pesquisa. Por esse critério, vê-se que 53% dos recursos foram destinados a pesquisas de caráter aplicado. Essa rubrica inclui o investimento em auxílios e bolsas em áreas como agronomia e veterinária, engenharia e saúde, que quase sempre resultam em aplicações, além de programas que estimulam a inovação nas universidades e empresas e de alguns programas especiais da Fundação. Outros 39% foram investidos em apoio ao avanço do conhecimento, por meio de programas que formam recursos humanos e estimulam a pesquisa acadêmica, o que inclui bolsas e auxílios. Por fim, 8% apoiaram a infraestrutura de pesquisa, permitindo recuperar, modernizar e adquirir equipamentos para laboratórios, ampliar o acervo de bibliotecas de instituições de ensino e pesquisa e garantir a pesquisadores acesso rápido à internet.

Os investimentos no programa de Equipamentos Multiusuários (EMU), voltados para a compra de equipamentos de alto valor e que se tornam disponíveis para um amplo número de pesquisadores, foram de R$ 37,5 milhões em 2016, incluindo os 134 projetos concedidos como vinculados a auxílios regulares, Temáticos e ao programa Jovens Pesquisadores. Esse montante também contempla os quatro projetos específicos do EMU, que custaram R$ 1,3 milhão.

Ao longo de 2016, estavam vigentes acordos de cooperação entre a FAPESP e 94 organizações, 28 deles firmados no ano. Entre os novos acordos com agências de fomento e instituições acadêmicas, apenas um foi celebrado com uma instituição brasileira – o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Os outros 24 foram acordos internacionais firmados com 7 organizações dos Estados Unidos, 3 do Reino Unido, 3 da Austrália, 2 do Canadá, 2 da França, 2 da China, 1 da Holanda, 1 da Itália, 1 da Noruega, 1 do Chile, e um com 1 agência multinacional. Foram assinados acordos com três empresas: a Statoil, de origem norueguesa, a holandesa Koppert e a norte-americana IBM. Dois simpósios científicos da série FAPESP Week, que buscam estimular colaborações científicas entre pesquisadores de São Paulo e de outros países, foram realizados em 2016: um deles nos Estados Unidos, em março, e outro no Uruguai, em novembro.

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