Nelson Provazi
Deem foi o orientador do doutorado de Jiankui, entre 2007 e 2010. Depois disso, seguiram trabalhando juntos e são coautores de oito artigos publicados. Há indícios de que, em 2017, o norte-americano participou, como membro da equipe liderada pelo chinês, de reuniões com voluntários, ajudando a recrutá-los e obtendo seu consentimento para a pesquisa. Seus advogados argumentam que Deem, embora seja autor de estudos teóricos sobre a técnica, não executou nenhum trabalho experimental, tampouco autorizou a inclusão de seu nome em artigos submetidos a revistas.
Nos Estados Unidos, a geração de embriões geneticamente modificados é proibida. A eventual participação de Deem em um experimento desse tipo no exterior não seria ilegal, desde que ele tivesse a aprovação de sua universidade, que diz não ter sido informada. Várias nações proíbem o expediente de realizar experimentos eticamente questionáveis em países com regulação frouxa, por meio de colaborações. Recentemente, a União Europeia patrocinou um estudo sobre essa prática, vedada em pesquisas financiadas pelo bloco. O caso mais estranho foi o do neurocirurgião italiano Sergio Canavero, ex-professor da Universidade de Turim, que transferiu para a China sua pesquisa para realizar transplantes de cabeça em seres humanos – que acabou interrompida pelo governo chinês ainda na fase de experimentação animal. Segundo o estudo europeu, exemplos semelhantes foram registrados em países da Ásia e da África. “Há casos em que claramente se trata de um artifício para evitar a legislação restritiva dos países da Europa”, disse à revista The Economist a professora de ética Doris Schroeder, da Universidade de Central Lancashire, na Inglaterra, que coordenou o levantamento.
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