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Artes plásticas

A jugular saliente de um Davi tenso

Joerg Bittner (Unna) / Wikimedia Commons Veia dilatada seria sinal de tensãoJoerg Bittner (Unna) / Wikimedia Commons

Ao visitar a galeria da Academia de Belas Artes de Florença, na Itália, o médico intensivista Daniel Gelfman, da Universidade Marian, Estados Unidos, observou um detalhe na monumental escultura de Davi no qual poucos reparam: a veia jugular externa saltada no lado direito do pescoço (JAMA Cardiology, 26 de dezembro de 2019). Essa veia saliente sob a pele é hoje interpretada como um sinal de pressão arterial elevada ou de funcionamento deficiente do coração, mas Gelfman supôs que a intenção do autor da escultura, o italiano Michelangelo Buonarroti (1475-1564), não teria sido a de mostrar Davi como um cardiopata. De volta à universidade, o médico consultou livros e conversou com colegas em busca de explicação. Como o escultor tinha conhecimento de anatomia, a veia saltada não deveria ter sido feita por acaso. Em 1504, quando Michelangelo esculpiu Davi, o sistema circulatório ainda era pouco conhecido – seu funcionamento seria desvendado mais tarde, com a descrição da circulação sanguínea em 1628 pelo inglês William Harvey (1578-1657) e a identificação das conexões entre grandes e pequenos vasos em 1661 pelo anatomista italiano Marcello Malpighi (1628-1694). Gelfman aprofundou seus conhecimentos em arte e concluiu que Michelangelo certamente notou a jugular proeminente em pessoas saudáveis em estado de tensão. Desse modo, a veia devia estar saltada porque Davi estava em uma situação que exigia muita adrenalina, antes de enfrentar o gigante Golias. A veia jugular externa aparece saltada também em outra escultura de Michelangelo: Moisés, em pose também sob tensão.

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