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Boas práticas

Artigos de alunos são usados para aumentar citações de trabalhos de docentes

Pela segunda vez consecutiva, a Faculdade de Odontologia do Instituto Saveetha de Ciências Médicas e Técnicas, em Chennai, na Índia, lidera a lista das instituições mais citadas do mundo em sua disciplina, produzida pela consultoria Quacquarelli Symonds (QS), do Reino Unido. Graças a esse desempenho, também aparece no ranking mundial de universidades da QS como a 13ª melhor escola de odontologia do mundo – logo à frente da Universidade de São Paulo (USP), que está em 14º lugar. Uma investigação feita pelo site Retraction Watch, que divulga notícias sobre integridade científica, indica que esse desempenho é impulsionado por um esquema que pode configurar má conduta.

Todos os anos, os cerca de 500 alunos da instituição participam de um exercício: em um exame que dura quatro horas, devem escrever um ensaio de 1.500 palavras relatando a atividade de pesquisa que realizaram no ano anterior. Os textos são revisados pelos estudantes e professores, que então incluem referências bibliográficas. Em seguida, são submetidos a revistas científicas – e muitos são aceitos para publicação. Esses artigos contribuem para o desempenho notável da produção científica da instituição, que publicou cerca de 1,4 mil artigos no ano passado.

De acordo com o Retraction Watch, a inclusão das referências bibliográficas privilegia trabalhos da própria instituição. Uma das estratégias consiste em usar os artigos dos alunos para fazer propaganda dos docentes. Nos textos, o trabalho de grupos de pesquisa da instituição é elogiado por meio de alguma frase genérica, como “rica experiência”, “extenso conhecimento” ou “numerosos estudos originais”, que vem acompanhada de exemplos na forma de dezenas de referências a artigos de professores – algumas citações nem sequer estão relacionadas diretamente ao tema do trabalho. Um estudo publicado em 2019 por dois pesquisadores da instituição no Journal of Oral Biology and Craniofacial Research descreve um método para classificar as formas de rostos humanos e já recebeu 169 citações de acordo com a contagem do Google Scholar. Quase todas as menções vieram de artigos escritos por autores de Saveetha, com apenas quatro exceções.

A direção da instituição nega a intenção de manipular indicadores de desempenho, mas pessoas de fora da universidade veem má fé na estratégia. O ortodontista Theodore Eliades, professor da Universidade de Zurique e editor chefe do The Korean Journal of Orthodontics, disse à revista Science e ao Retraction Watch que as referências são inseridas nos textos de forma meticulosa, para iludir o leitor e impedir que sejam identificadas como autocitação, que é uma prática combatida na comunicação científica.

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