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Engenharia eletrônica

Assistência técnica inovadora

Equipamento detecta problemas com rapidez e faz o reparo em módulos das centrais telefônicas

EDUARDO CESARAo conectar a placa eletrônica ao Sartme, o diagnóstico aparece na tela do computadorEDUARDO CESAR

A oferta de serviços de telecomunicações no Brasil registrou acelerada expansão, nos últimos anos, com a privatização das empresas públicas do antigo sistema Telebrás. Administrar os problemas decorrentes desse crescimento exige, cada vez mais, novos instrumentos de controle. Foi a percepção desse mercado o ponto de partida para a Qualibrás Eletrônica, de Campinas, desenvolver o Sistema Automático Reconfigurável de Teste de Módulos Eletrônicos (Sartme). Esse sistema torna-se fundamental neste momento de ampliação e multiplicação de centrais telefônicas, equipamentos que centralizam as linhas telefônicas de um bairro ou cidade e estabelecem as interconexões entre as centrais de outras regiões. O Sartme foi desenvolvido para testes e reparo de módulos eletrônicos que compõem essas centrais.

A grande vantagem desse produto, segundo o engenheiro eletrônico Gilberto Antônio Possa, coordenador do projeto e um dos diretores da Qualibrás, é que ele poderá ser utilizado em equipamentos eletrônicos de qualquer fabricante, bastando para isso o desenvolvimento de um software específico para cada uso. Assim, num laboratório de assistência técnica ou linha de produção de produtos eletrônicos, o Sartme poderá ser utilizado no teste de placas – onde estão instalados os chips e demais componentes do circuito eletrônico -, diagnosticar defeitos e auxiliar na localização e solução das falhas. Basta conectar a placa eletrônica ao aparelho, escolher na tela do computador um tipo de teste desejado e verificar na tela se há algum defeito e onde ele está localizado.

A Qualibrás foi criada em 1990, quando a Promon, empresa que fabrica as centrais telefônicas Trópico, terceirizou os serviços de manutenção e assistência técnica de seus produtos. Em pouco tempo, Possa e seus três sócios, Carlos Henrique, Marco Bezzi e Fernando Ferreira – ex-funcionários da Promon -, perceberam que existia uma grande possibilidade de crescimento se a empresa também prestasse assistência técnica aos setores de telecomunicações e da indústria eletrônica. O problema é que cada fabricante tem suas especificidades. Assim, fazer a manutenção das placas de diversos tipos de centrais ou outros equipamentos seria muito complicado e oneroso.

Qualidade no espaço
A solução foi criar um sistema que fizesse esses testes e pudesse ser reconfigurado para se adequar aos tipos de módulos eletrônicos de cada fabricante. Em março de 2000, depois de obter o apoio do Programa de Inovação Tecnológica em Pequenas Empresas (PIPE), da FAPESP, a empresa começou a desenvolver o Sartme, que já chamou a atenção inclusive de técnicos do Centro Técnico Aeroespacial (CTA) do Ministério da Aeronáutica. Eles estão interessados no sistema para uso na montagem do Veículo Lançador de Satélites (VLS), em desenvolvimento naquela instituição. Nesse caso, o sistema será usado como um controle de qualidade para testes do equipamento eletrônico do VLS.

Segundo Possa, a idéia inicial era apenas ampliar os serviços de reparos oferecidos pela empresa, fazê-los em grande escala. Mas, com o Sartme, acabou mudando um pouco o foco. De simples prestadora de serviços passou a ser também empresa que desenvolve tecnologia. Mas seus diretores não pretendem, pelo menos por enquanto, mudar o perfil da Qualibrás. Ela continuará no ramo de assistência técnica e manutenção. Quanto ao Sartme, ele será fornecido, juntamente com as adaptações de software necessárias para cada aplicação, para outras empresas de manutenção e para fabricantes e montadoras de produtos eletrônicos.

Para os diretores da Qualibrás, o produto cria as bases para o desenvolvimento de novas tecnologias. Para Possa, o Brasil ainda não é forte na área de reparo em grande escala de equipamentos eletrônicos e de telecomunicações. Nos Estados Unidos, o maior mercado mundial desse setor, a área de assistência técnica e manutenção é atendida por grandes empresas, que prestam serviços de reparo em larga escala. Para viabilizar a produção em escala do equipamento, Possa tem procurado agências de financiamento em busca de capital de risco para sua empresa.

A primeira experiência aconteceu em abril do ano passado, quando participou de uma rodada do Venture Fórum, reunião organizada pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) entre empresários e investidores. “Foi a partir do apoio do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e dos contatos nascidos no Venture Fórum que pude dar nova dimensão à empresa”, conta Possa. Ele ressalta que, graças a esse apoio e à explosão do setor de telefonia, no ano passado, o faturamento da empresa mais que dobrou em dois anos. Em 2001, a Qualibrás faturou R$ 3,4 milhões e cresceu 69% em relação a 2000, ano em que ela já havia registrado crescimento de 34%.

Medição remota
Ao mesmo tempo em que finaliza o Sartme, a Qualibrás prepara-se para buscar recursos para um outro produto que está em gestação num segundo projeto da empresa, também financiado pelo PIPE, ainda na sua primeira fase. Trata-se de um sistema que transmite remotamente as medições de consumo, monitora e pode ligar e desligar o fornecimento de energia elétrica. Essas informações seguem pela própria linha de transmissão com os dados enviados diretamente para a companhia de distribuição de energia. Além da vantagem de dispensar a instalação de cabos entre esses pontos, esse sistema estimula o uso de tecnologia e instrumentação digital em sistemas elétricos. O projeto ganha importância com o fim do racionamento, pois o governo estuda a redução da tarifa para quem consome energia fora dos horários de pico – a chamada tarifa amarela.

As perspectivas dos produtos da Qualibrás mostram que a empresa começa a enveredar por novos caminhos. Ela começou a ampliar o leque de interesses no exato momento em que percebeu a necessidade de um equipamento para melhorar a sua prestação de serviços. Mesmo ao manter o nicho original na manutenção e assistência técnica para centrais telefônicas, já incorporou à sua trajetória um comportamento típico de empresa que investe em inovação tecnológica para se tornar mais competitiva.

O projeto
Sistema Automático Reconfigurável de Teste de Módulos Eletrônicos (nº 99/06287-0); Modalidade Programa de Inovação Tecnológica em Pequenas Empresas (PIPE); Coordenador Gilberto Antônio Possa – Qualibrás; Investimento R$ 328.706,00

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