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Lepidothrix vilasboasi

Ave da Amazônia se originou de processo de hibridização

Descoberto em 1957 nas cabeceiras do rio Cururu, afluente do Tapajós, no oeste do Pará, o dançador-de-coroa-dourada (Lepidothrix vilasboasi) é uma ave misteriosa. Logo após ter sido descrita pelo ornitólogo Helmut Sick, alemão naturalizado brasileiro, a espécie, que mede pouco menos de 10 centímetros, passou mais de 40 anos sem ser avistada novamente. Só voltou a ser observada na natureza em 2002. De coloração verde e amarela, o dançador é parecido com outras duas espécies que habitam áreas vizinhas, o uirapuru-de-chapéu-branco (Lepidothrix nattereri) e o cabeça-de-prata (Lepidothrix iris). Um estudo feito por pesquisadores do Canadá, Brasil e Bélgica a partir de material genético das três aves confirmou a suspeita de que o dançador é uma espécie que se originou de um híbrido natural: 20% de seu genoma vem do uirapuru e 80% do cabeça-de-prata (PNAS, 26 de dezembro). Segundo o trabalho, exemplares do uirapuru e do cabeça-de-prata cruzaram e geraram um híbrido há cerca de 180 mil anos. Por algum motivo, possivelmente o isolamento geográfico, as aves híbridas passaram a preferir outros exemplares mestiços para acasalar em vez de se reproduzir com uma das duas espécies parentais. “Ao longo desse processo, a cor amarela da cabeça apareceu e se fixou como o caráter que define a espécie”, comenta o ornitólogo Alexandre Aleixo, do Museu Paraense Emílio Goeldi, um dos autores do estudo. “Normalmente, um animal híbrido não prospera – a mula, por exemplo, é estéril – e, com o tempo, o sinal genômico da hibridização desaparece. Mas com o L. vilasboasi ocorreu exatamente o contrário.” O dançador é a primeira espécie de ave da Amazônia comprovadamente originária de um híbrido e a quarta do mundo.

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