Uma decisão inédita foi tomada em Madri, Espanha, durante o mais recente Congresso Internacional de Botânica: eliminar um termo de cunho racista. Em mais de 300 espécies de plantas, fungos e algas, a palavra caffra (e variações) será substituída por afra. O termo, que em árabe significava infiel, também designava o sudeste africano, sentido adotado em nomes científicos. A partir do Apartheid, ganhou conotação de insulto racial. “Causava constrangimento às pessoas, que não queriam citar nomes de plantas”, conta o botânico Gustavo Shimizu, pesquisador colaborador da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que fez parte da delegação brasileira em Madri. O novo termo significa origem no continente africano. Apesar de ser desejável uma estabilidade nos nomes dos organismos, Shimizu defende que o cientista se posicione no tempo em que vive. Além da regra, obrigatória a partir de 27 de julho, o grupo de cerca de 170 botânicos também aprovou uma recomendação: “Ao publicar nomes de novos táxons ou nomes substitutos, os autores são fortemente encorajados a evitar nomes que sejam vistos ou tratados como inapropriados, desagradáveis, ofensivos ou inaceitáveis por qualquer grupo nacional, étnico, cultural”. Um comitê de ética estudará de maneira aprofundada o assunto e fará propostas a serem votadas no próximo congresso, em 2029.
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