O mundo científico habituou-se a ver o físico francês Henri Becquerel e o casal franco-polonês Pierre e Marie Curie como os primeiros desbravadores do mundo das partículas radioativas. Isso é verdade em parte. Sem as experiências e observações deles e de outros físicos, apresentadas a partir de 1896 na Academia de Ciências de Paris, não haveria oportunidade para novas descobertas e hipóteses.
Mas foi o trabalho teórico de dois físicos, Ernest Rutherford, da Nova Zelândia, e Frederick Soddy, da Inglaterra, que efetivamente explicou como ocorrem as atividades radioativas. Entre novembro de 1902 e maio de 1903, eles publicaram uma série de cinco artigos em que apresentavam a hipótese de que a radioatividade está associada a fenômenos atômicos de desintegração, que levamà transformação de um elemento químico em outro.
Em 1904, a hipótese dos dois, ganhadores do Nobel de Química de 1908, estava consolidada e aceita por outros pesquisadores. Ou seja, a compreensão moderna desses fenômenos começou a existir há 100 anos. Até então, o que se sabia sobre radioatividade eram descrições de experiências de laboratório com “substâncias que brilham”, como sulfeto de zinco fosforescente, sulfeto de cálcio, estrôncio, bário e urânio, entre outras. Embora esteja entre os pioneiros desse tipo de pesquisa, Becquerel descobriu “coisas” que não entendia bem o que eram e acabou por desinteressar-se delas depois de alguns anos.
“O casal Curie teve também um papel importante, percebendo que a radioatividade era algo novo, não influenciável por luz ou calor, e descobrindo novos elementos radioativos além do urânio”, explica Roberto de Andrade Martins, professor do Instituto de Física da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e especialista no assunto. “Rutherford e Soddy deram, então, um passo fundamental, esclarecendo o que acontecia dentro dos materiais radioativos.”
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