Cientistas de São Paulo querem influir decisivamente nos debates e fazer com que a pesquisa brasileira contribua de forma efetiva para as decisões da Rio+20, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, de 20 a 22 de junho. Não se trata, claro, de um empenho da comunidade inteira, mas principalmente dos pesquisadores que atuam nos campos da biodiversidade, das energias de fontes renováveis e das mudanças climáticas globais e estão envolvidos em projetos apoiados por grandes programas da FAPESP nessas áreas. É ambição de boa envergadura, a justificar, pouco mais de três meses antes da conferência, sua transformação em objeto de capa desta edição de Pesquisa FAPESP, a cargo de nosso editor de política, Fabrício Marques.
Há outros dados factuais para a escolha: nos dias 6 e 7 deste mês de março, as preocupações e propostas dos pesquisadores paulistas começam a vir à luz de forma sistematizada num workshop organizado pela Fundação. E se tudo estiver caminhando como previsto, desse encontro sai para o comitê da conferência um documento, nem um pouco impressionista, e sim baseado nas respostas dadas por centenas de pesquisadores a um questionário cuja intenção era exatamente auscultar suas visões sobre os temas em pauta na Rio+20. A essa altura, está fora de dúvida que assuntos como a criação de um modelo climático brasileiro e as rotas de produção sustentável de biocombustíveis entrarão nos tópicos da contribuição paulista. Para informações muito mais detalhadas, vale a pena ler a reportagem.
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Dentre as reportagens da editoria de ciência gostaria de destacar a que trata de uma pesquisa que, se fosse um post nas redes sociais, estaria alçada com folga à categoria de trending topic. Desde dezembro, esse estudo que evidencia uma situação em que as bactérias dos intestinos podem causar prejuízo para o organismo humano, publicado na PLoS Biology, já foi acessado cerca de 11 mil vezes, o que dá uma medida da atenção que despertou. Liderada pelo professor Mário Abdalla Saad, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a equipe responsável pelo trabalho demonstrou que um determinado grupo de bactérias intestinais pode iniciar, em certas situações, um desequilíbrio metabólico relacionado à resistência à insulina capaz de levar ao desenvolvimento de diabetes e de obesidade, dois imensos problemas contemporâneos de saúde pública. Vale a pena ler a reportagem de nosso editor de ciência, Ricardo Zorzetto.
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O sorgo, planta mais conhecida por fornecer forragem para o gado ou sementes para aves e suínos, tornou-se nesta edição da revista a peça de resistência da seção de tecnologia. Tudo porque essa gramínea, parente da cana-de-açúcar, está sendo preparada por pesquisadores da Embrapa para integrar a matriz energética brasileira. O etanol do sorgo, como explica Marcos de Oliveira, nosso editor de tecnologia, deverá suprir a tradicional escassez do produto feito de cana entre dezembro e março e produzir, assim, impacto positivo nas variações de preço do combustível. É esperar para ver, mas pode-se ter mais detalhes do projeto desde já.
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Vou encerrar os destaques desta edição com a reportagem de abertura da seção de humanidades que se debruça sobre um estudo do ciclo de 20 anos de greves no ABC paulista, cujo epicentro se pode situar entre os anos de 1985 e 1992. O fato é que as 118 greves de 1978 e as mais de 2 mil dos 10 anos seguintes incluíram o Brasil entre os países com maiores níveis de paralisações dentro do mundo ocidental, conforme reportagem de nosso editor de humanidades, Carlos Haag. O que se queria com tantas greves, além das óbvias reivindicações salariais? Vale a pena ler o texto para tomar contato com uma visão segundo a qual as greves desses anos fazem parte da trajetória brasileira de democratização. Ou de amadurecimento da sociedade brasileira.
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