“Nadei contra a corrente e tive que superar muitos obstáculos”, diz o professor José Agnaldo Gomes, de 43 anos, do Departamento de Psicologia Social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Nascido em Maracaí, a 463 quilômetros da capital, Gomes começou a trabalhar aos 13 anos como cortador de cana. Durante sete anos a escola ficou fora da sua rotina de acordar de madrugada, trabalhar duro e desabar de cansaço à noite. Até decidir cursar o supletivo para concluir o ginásio e o ensino médio.
“Mesmo cortando cana, sempre alimentei o sonho de ser psicólogo”, diz. Após 10 anos como boia-fria, conseguiu uma vaga no escritório da usina, mas decidiu deixar a mãe, os irmãos e o emprego e vir para São Paulo, onde trabalhou nas Casas Bahia. Em seguida, começou a cursar psicologia na Universidade São Judas Tadeu, mas não tinha como pagar a mensalidade. Por meio de amigos, conheceu d. Luciano Mendes de Almeida, que conseguiu para ele uma bolsa de estudos integral.
Como queria dar aulas, fez o mestrado em psicologia social na PUC, também como bolsista, com foco nos moradores de rua. Em 2003 candidatou-se ao doutorado em psicologia do trabalho na Universidade de São Paulo (USP). Barrado no exame de proficiência em alemão, foi aprender o idioma na Alemanha, onde ficou durante seis meses como voluntário em uma associação que cuida de moradores de rua. Na volta, foi aprovado no doutorado da USP. “Como tema, fui para Cosmópolis onde estudei as condições de vida dos cortadores de cana”, relata. Na defesa do doutorado, a banca sugeriu que a tese virasse livro, publicado em 2012 com o título Do trabalho penoso à dignidade no trabalho.
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