Arquivo pessoalA bióloga Simone Picchi decidiu a que iria se dedicar em fins de 1997, ao visitar um dos laboratórios do Centro de Biologia Agrícola da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP), em Piracicaba. Então no último ano do curso de biologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Bauru, ela ficou fascinada pelas técnicas de cultura de tecidos e de biologia molecular desenvolvidas por lá. Antes de partir, pediu estágio à engenheira-agrônoma Helaine Carrer, à época responsável pelo laboratório, que pouco depois integrou a Rede de Organização para o Sequenciamento e Análise de Nucleotídeos (Onsa, em inglês), criada pela FAPESP para sequenciar o genoma da bactéria Xylella fastidiosa, causadora da clorose variegada dos citros (CVC), o “amarelinho”, praga que ataca os laranjais.
Simone conseguiu o estágio, e a partir daí se envolveu cada vez mais com os estudos sobre a Xylella. De 1999 a 2006 fez mestrado e doutorado em agronomia genética e melhoramento de plantas na Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Unesp, em Jaboticabal. Em 2009, ela foi para os Estados Unidos, onde trabalhou com bacteriófagos, um tipo de vírus que ataca bactérias, durante um estágio de pós-doutorado na Escola de Medicina Veterinária da Universidade Cornell. A pesquisa foi feita no âmbito de uma parceria entre a universidade e a empresa Geneweave Biosciences.“Foi então que comecei a ter uma visão mais empresarial sobre minha própria pesquisa”, ela conta.
Em 2010, de volta ao Brasil, Simone começou um novo estágio de pós-doutorado no Centro de Citricultura Sylvio Moreira do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), na área de biofilme bacteriano, sob supervisão da bióloga Alessandra Alves de Souza, que estudava uma molécula chamada N-acetilcisteína (NAC) como uma possível alternativa sustentável de controle do amarelinho. A NAC é um composto usado para reduzir a secreção nasal e desobstruir as vias respiratórias, sendo inofensivo para o meio ambiente. “Após infectar a planta, a Xylella forma um biofilme que une a comunidade de microrganismos invasores”, explica. “Pensamos que romper esse biofilme no início de sua formação com a NAC seria uma forma de combater a doença.”
Os experimentos renderam bons resultados e Simone resolveu ampliar o uso da NAC também no combate à bactéria Xanthomonas citri subsp. citri, causadora do cancro cítrico. Além de seguir desenvolvendo suas pesquisas na área de genética e microrganismos no IAC, Simone abriu a CiaCamp, empresa voltada à pesquisa e ao desenvolvimento de fertilizante à base de NAC para ser usado na citricultura como uma alternativa sustentável no manejo de doenças fitopatogênicas. Recentemente a empresa conseguiu financiamento da FAPESP por meio do programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (Pipe). “O objetivo é levar o conhecimento gerado na pesquisa para o produtor”, define a pesquisadora.
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