Uma preguiça-gigante que viveu dezenas de milhares de anos atrás onde hoje é o sertão de Pernambuco deve ter suportado por muito tempo uma baita dor no pescoço. O paleontólogo Fernando Henrique de Souza Barbosa identificou uma extensa lesão óssea na segunda vértebra da coluna do animal, um quadrúpede terrícola de quase seis metros de comprimento e quase cinco toneladas – era maior que um elefante. O geólogo José Lins Rolim, hoje professor aposentado da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), encontrou a vértebra fossilizada da preguiça terrestre Eremotherium laurillardi no início dos anos 1970 em um tanque fossilífero, um tipo de depressão em rochas graníticas comum no Nordeste, coberta por sedimentos de tempos em tempos. Guardado no museu de paleontologia da UFPE, o exemplar foi estudado agora por Barbosa e dois colegas (International Journal of Paleopathology, setembro). “É provável que tenha convivido com uma dor severa”, diz Barbosa, aluno de doutorado na Universidade Federal do Rio de Janeiro. A lesão que ele identificou é uma osteofitose, o popular bico-de-papagaio, marcado pela proliferação de osso na borda da articulação. Esse é um achado raro. “Encontrar fósseis já é difícil e ainda mais achar um com um problema que surge na articulação e leva tempo para atingir o osso”, diz.
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