Inovações tecnológicas propostas por pequenas empresas brasileiras receberam um forte estímulo na terceira edição do Venture Forum, uma iniciativa da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) com a colaboração da FAPESP, da Associação Brasileira de Capital de Risco (ABCR) e da Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca).
Durante o Forum realizado no Hotel Maksoud Plaza, em São Paulo, nos dias 18 e 19 de abril, de um lado estavam executivos de 45 instituições financiadoras de capital de risco, nacionais e estrangeiras, dispostas a investir em empreendimentos que resultem em alto retorno financeiro. Do outro lado, 16 pequenos empresários apresentaram seus produtos e sistemas inovadores que demandam apoio para ir ao mercado.
Essas 16 empresas foram escolhidas por consultores da Finep dentre um total de 300 inscritas para o evento. Seis dessas empresas já recebem financiamento da FAPESP, dentro do Programa de Inovação Tecnológica em Pequenas Empresas (PIPE), para desenvolver pesquisa dentro de suas instalações.
Aliás, em paralelo ao fórum, a Fundação apresentou a 3ª Exposição “A FAPESP e a Inovação Tecnológica”, mostra em pequenos estandes de outras 54 empresas participantes do PIPE e 21 projetos do Programa Parceria para Inovação Tecnológica (PITE), que reúne empresas e instituições acadêmicas.
Nova perspectiva
Os dois eventos reforçaram a necessidade de aproximar cada vez mais a pesquisa dos meios produtivos. No Brasil o elo entre a geração de conhecimento e a sua transformação em riqueza “ainda é frágil”, avaliou o professor Carlos Henrique de Brito Cruz, presidente da FAPESP, na sessão inaugural do Venture Forum. Para ele, é fundamental, neste momento de desenvolvimento do país, a aproximação daqueles que desenvolvem tecnologia – nas empresas e nas instituições acadêmicas – com investidores dispostos a apostar na concretização de produtos e sistemas com valor tecnológico agregado.
“Existe hoje uma oportunidade inadiável para superar a defasagem tecnológica e colocar a ciência e a tecnologia no epicentro da atividade econômica do país”, disse o ministro da Ciência e Tecnologia, Ronaldo Mota Sardenberg, presente no segundo dia do evento. Outro convidado, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Horácio Lafer Piva, usou um exemplo para reforçar a necessidade de investimentos no fortalecimento do desenvolvimento tecnológico. “Em minhas viagens pelo Brasil, eu encontro gente com ótimas idéias e com dificuldades de encontrar investidores”, afirmou.
Do lado do capital, a expectativa é grande. “O número de investidores inscritos superou nossas expectativas”, disse Jorge Ávila, diretor da Finep. A platéia que ouviu a exposição dos 16 representantes das empresas dispõe de cerca de US$ 3,8 bilhões para serem investidos em boas e rentáveis idéias. Segundo a ABCR, no ano passado, foram desembolsados, no país, US$ 750 milhões em investimentos para empresas nascentes ou emergentes. Cifras desse porte fazem brilhar os olhos dos empreendedores das 16 empresas selecionadas.
Cenário diferente
Para aproximar os empreendedores dos investidores, encontros do tipo Venture Forum são essenciais. Eles são o pontapé inicial para a concretização de novos negócios. Essas experiências acontecem nos Estados Unidos há alguns anos. Paul Myers, diretor da The Capital Network, uma companhia norte-americana que realiza eventos semelhantes ao Venture Forum nos Estados Unidos, dá uma idéia do potencial desse tipo de encontro. “Das 230 empresas que já participaram de fóruns realizados por nós nos EUA desde 1996, 77 obtiveram financiamento a partir dos encontros, perfazendo um total de US$ 270 milhões investidos”, contabiliza Myers.
Peter Jones, do Darby Technology Group, disse que, no ano 2000, US$ 100 bilhões foram alocados em “A Internet impulsionou esse movimento”, disse. Para este ano, o cenário é bem diferente. O total investido deverá cair para US$ 40 bilhões por conta da decepção dos investidores com os parcos retornos oferecidos pelos negócios ligados à Internet. Fato que não é necessariamente ruim, segundo ele. “Agora, o capital de risco se volta para outros setores da tecnologia e busca oportunidades com mais critério e atenção.”
Altruísmo e ambições
Durante o Venture Forum, os investidores tiveram a oportunidade de confirmar esse novo cenário também para o Brasil e foram muito claros em dar seu recado aos empreendedores. “O capital de risco é ávido por altos retornos”, disse Luiz Spínola, da UBS Capital America. “Não investimos por altruísmo, e sim para ganhar dinheiro na saída.”
Saída é o momento de deixar o empreendimento, tirando daí os lucros que devem ser maiores do que aqueles proporcionados pelo mercado financeiro. O risco é a possibilidade de o empreendimento não dar certo, situação natural que cerca os negócios inovadores com os quais ainda se tem pouca experiência.
A intenção dos investidores não é manter o controle ou ficar com a empresa para sempre. A essência da atividade manda o investidor se desfazer do negócio quando achar que ele atingiu um estágio de maturação suficiente para trazer um bom retorno.
Busca na universidade
“Investimos principalmente em empresas de infra-estrutura ligadas à Internet, mas agora estamos visitando universidades e incubadoras”, disse José Carlos La Motta, um dos sócios da E-Platform, um fundo com quatro sócios e participação do Unibanco. Ele revela que está em negociação com um grupo de pesquisadores gaúchos. “Por enquanto não posso falar quem é e nem o quê”, despista. “Nosso objetivo é entrar em empresas nascentes com uma participação entre 25% e 30%.”
Clóvis Meurer, diretor da Companhia Riograndense de Participações (CRP), apresentou o que todos dizem ser fundamental para odesenvolvimento do capital de risco no Brasil: histórias de sucesso. A CRPfoi uma das financiadoras do provedor de Internet NutecNet, em meados da década de 90. Hoje, após passar um período chamado Zaz, o negócio faz parte do megaportal internacional Terra, da espanhola Telefônica. A empresa, depois de implementar dois fundos de investimento em empresas emergentes de base tecnológica, o RSTec, para o Rio Grande do Sul, e o SCTec, para Santa Catarina, prepara o SPTec. “Estamos montado uma filial em São Paulo”, avisa Meurer.
Tanto os investidores quanto os empreendedores saíram satisfeitos da troca de experiências promovida pelo 3º Venture Forum. “Estar em contato com idéias inovadoras é sempre produtivo”, disse Cláudio Vidal, executivo do Santander Private Equity. “Precisamos multiplicar oportunidades como essa”, propôs o professor Brito Cruz. Duas novas rodadas do Venture Forum já estão marcadas: a primeira, para agosto, em Belo Horizonte, e a outra, em outubro, no Rio de Janeiro.
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