Adaptada às queimadas esporádicas, a vegetação do Cerrado costuma sofrer com o frio intenso. Estudos já indicaram que geadas podem ter impacto semelhante ao do fogo, reduzindo o crescimento de árvores e atuando na seleção de espécies. Um estudo liderado pela engenheira florestal Giselda Durigan, do Instituto de Pesquisas Ambientais de São Paulo (IPA-SP), sugere que esses efeitos não apenas remodelam a paisagem, mas também prejudicam a recuperação da vegetação. Em seu doutorado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a bióloga Natashi Pilon investigou o impacto do frio na recuperação da vegetação mais baixa – arbustos e gramíneas – em uma área de Cerrado no interior de São Paulo. Diferentemente do fogo, que consome mais matéria orgânica (até a depositada sobre o solo), o frio aumenta a camada de folhas, ramos e galhos em decomposição. A redução na área de terra nua dificulta a dispersão e a germinação de sementes e o rebrotamento das plantas. A geada matou arbustos e gramíneas, em especial nos trechos com menor cobertura de árvores, diminuindo a densidade de plantas. O frio não reduziu o número de espécies. Das 305 analisadas, 73% não sofreram danos (Oecologia, 21 de setembro).
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