O artigo “Crime e castigo na cidade: os repertórios da justiça e a questão do homicídio nas periferias de São Paulo”, de Gabriel de Santis Feltran, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), descreve e analisa a operação de “tribunais do crime”, implementados por facções criminosas nas periferias da cidade de São Paulo. O autor argumenta que a disseminação desse dispositivo, hoje “institucionalizado” nos territórios estudados, somente se tornou possível depois de o “mundo do crime” ter ascendido à posição de instância normativa legítima entre parcela minoritária, mas relevante, dos moradores das periferias urbanas. De acordo com o pesquisador, esse fenômeno remete, no mínimo, a três décadas de transformações ocorridas nas esferas do trabalho, da família, da religião e da ação coletiva, pilares da vida social das periferias urbanas. Mapeando essas transformações amparado por uma etnografia realizada entre 2005 e 2009, Feltran afirma que os dispositivos de regulação interna ao “mundo do crime” seriam os fatores explicativos centrais da queda das taxas de homicídio em São Paulo, notável nos anos 2000, e reivindicada publicamente por governos e polícias.
Caderno CRH – vol. 23 – nº 58 – Salvador – abr. 2010
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