O uso de pesticidas ao longo do século passado foi importante para aumentar a produção agrícola mundial e torná-la grande o suficiente para alimentar a população do globo. O problema é que os efeitos desses compostos não se restringem às plantações em que foram aplicados – e muitas vezes atingem locais muito distantes e por muito tempo. Nos últimos anos a equipe do oceanólogo Adalto Bianchini, da Universidade Federal do Rio Grande, detectou a presença de praguicidas onde eles jamais foram aplicados: na Antártida. Analisando a gordura de elefantes-marinhos (Mirounga leonina) da Ilha Elefante, na península antártica, próximo ao extremo sul da América do Sul, Bianchini e Kleber Miranda Filho encontraram níveis elevados de diferentes componentes dos agrotóxicos – como o DDT, cujo uso foi abolido em boa parte do mundo – tanto no organismo de fêmeas adultas como de seus filhotes. O teor desses produtos químicos era maior nas mães, que pesam quase uma tonelada e medem três metros de comprimento, do que em suas crias, às quais os transmitem pelo leite, segundo artigo a ser publicado na Chemosphere. O efeito tóxico desses compostos, suspeitos de contribuir para a redução das populações de elefantes-marinhos, é mais importante nos primeiros anos de vida.
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